sábado, 8 de outubro de 2011

A menina e o siri




Sempre que o mundo desabava sobre minha cabeça, eu ia andar pela praia perto de onde morava. Um dia encontrei uma bela garotinha de olhos tão azuis quanto o mar, construindo um castelo de areia ou algo parecido.
- Oi, ela disse.
Eu respondi com um aceno de cabeça, não estava com humor para me aborrecer com uma criança.
- Você quer me ajudar a construir meu castelo?

- Hoje não. Falei sem dar atenção.

- Eu gosto de sentir a areia em meus dedos do pé, ela falou sorridente.
Que boa idéia, pensei, e tirei meus sapatos. Um siri deslizou próximo.
- Isto é um “alegria”. – falou a menina.

- É um o quê? – perguntei.

- Isto é um “alegria”, livre e solto pela praia.
Adeus “alegria”, olá dor, murmurei comigo mesmo e continuei a caminhar. Eu estava deprimido, mas a menina não desistia e perguntou: qual é o seu nome?
- Eu me chamo Roberto.
- O meu é Wanda. Eu tenho seis anos.
Apesar da minha melancolia fui obrigado a rir e continuei caminhando. Sua risadinha musical me seguiu.
- Venha novamente, Sr. Roberto e nós teremos outro dia feliz, disse ela animada.
Meus dias foram atribulados e somente semanas depois é que voltei à praia. A brisa era fria, mas eu andava a passos largos, tentando readquirir serenidade. Tinha até me esquecido da criança, quando ela apareceu.
- Oi Sr. Roberto, você quer brincar?

- Não sei, que tal charadas? Perguntei sarcasticamente.

- Eu não sei o que é isso, ela respondeu.

- Então me deixe continuar a caminhada. Onde você mora?

- Ali. Respondeu ela apontando na direção de uma fila de cabanas de verão.

- Como você vai para a escola?

- Eu não vou à escola. A mamãe disse que nós estamos de férias.
Ela tagarelou muito e quando eu ia voltar para casa, Wanda disse que tinha sido outro dia feliz. E havia sido mesmo. Três semanas mais tarde, eu andava apressado pela praia, quase em pânico, quando a garota me alcançou.
- Olhe se você não se importa, hoje eu quero andar sozinho.
Ela me pareceu pálida e sem fôlego.
- Por que? Perguntou.

- Porque minha mãe morreu! Gritei.

- Oh, então este é um dia ruim – ela falou com ar de tristeza.

- Sim, e ontem e anteontem também. Vá embora!
Um mês depois disto, fui andar novamente, mas ela não estava lá. Sentindo-me culpado e admitindo para mim mesmo que sentia falta dela, subi até a cabana e bati na porta. Uma mulher jovem me atendeu.
- Olá, eu sou Roberto. Senti a falta de sua menina e gostaria de saber se ela está bem.

- Sr. Roberto, entre por favor. Wanda falou muito do senhor. Eu tinha receio que ela estivesse lhe aborrecendo. Se ela foi um incômodo, por favor aceite minhas desculpas.

- Não, sua filha é uma criança muito amável. Onde ela está?

- Wanda morreu na semana passada, Sr. Roberto. Ela tinha leucemia. Talvez não tenha lhe contado…
A notícia me deixou cego e mudo, por alguns instantes. E a mãe continuou: ela adorava esta praia e parecia um tanto melhor aqui. Aqui ela teve muito do que chamava de “dias felizes”. Mas nos últimos dias, ela piorou rapidamente… Minha filha deixou algo para senhor.
Entregou-me um envelope, com o Sr. “R” escrito em grandes letras infantis. Dentro havia um desenho – uma praia amarela, um mar azul, e um siri marrom. Embaixo estava escrito “Um siri vai lhe trazer alegria”. Lágrimas rolaram de meus olhos, e um coração que quase esqueceu de amar abriu-se largamente. Tomei a mãe de Wanda em meus braços e murmurei repetidas vezes que sentia muito…
O pequeno e precioso desenho está agora emoldurado e pendurado em meu escritório. Seis palavras, uma para cada ano de sua vida, me falam de harmonia, coragem, amor e desinteresse.







História traduzida por Sérgio Barros, de autoria ignorada.

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