terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ser Feliz... para ser bonita



As pessoas que se comprazem no sofrimento, que gostam de sentir-se infelizes e fazer os outros infelizes, jamais poderão orgulhar-se de sua beleza. O mau humor, o sentimento de frustração, a amargura marcam a fisionomia, apagam o brilho dos olhos, cavam sulcos na face mais jovem, enfeiam qualquer rosto. Essa é a razão por que a mulher, que cultiva a beleza, deve esforçar-se para ser feliz. Felicidade é estado de alma, é atmosfera interior, não depende de fatos ou circunstâncias externas.

Claro que se o dinheiro falta, se a saúde vacila, se o amor arma alguma cilada, seu desejo de rir será pouco. Mas combata a depressão. Cultive o bom humor, como quem cultiva um bom hábito. Esforce-se para ser alegre. Afaste os sentimentos mesquinhos que provocam o despeito, a inveja, o sentimento de fracasso, que são origem de infelicidade. Adote uma filosofia otimista, eduque-se para ser feliz. Você o conseguirá. E verá o milagre em sua própria face, nos olhos que adquirirão brilho e vivacidade, na boca que perderá o rictus amargo e ganhará um ar jovem, na pele outra vez clara e macia.

Com o estado de felicidade íntima, a mocidade volta, a beleza reaparece.

Seja feliz, se quer ser bonita!



Correio Feminino - Via Vida Íntima de Clarice

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Frase do Dia:

"Pensar PROFESSOR e ser PROFESSOR 
são duas coisas completamente distintas."

[
Ana Keila Tavares]

Programa Frente a Frente entrevista Amanda Gurgel


No último dia 24, em Brasília, a professora potiguar Amanda Gurgel foi a entrevistada do programa Frente a Frente, da Rede Vida. Quem não assistiu, agora pode ver uma síntese da entrevista.



UERN



No Brasil é fácil reunir centenas e centenas de pessoas em uma caminhada a favor da maconha, milhares em uma comemoração futebolística, mas não se consegue juntar a sociedade em defesa da educação pública e de outras questões básicas do povo. A greve dos docentes da UERN e da rede estadual de ensino é uma prova disso. 


A sociedade norte-riograndense está apática, alheia, parece que não está ocorrendo nada, é como se a UERN não existisse ou não tivesse importância nenhuma para o Rio Grande do Norte, como se ela não fizesse falta.

A UERN, apesar de todas as dificuldades, é uma instituição de ensino superior que vem prestando bons serviços ao povo do nosso Estado, especialmente nas regiões que durante muito tempo ficaram sem oferecer aos seus filhos a oportunidade de cursar uma faculdade. Quem desejasse fazer um curso superior teria que se deslocar para Natal ou outra capital do Nordeste, tal como Fortaleza, João Pessoa ou Recife.


A criação da Universidade Regional do Rio Grande do Norte foi um passo importante na solução desse problema. A falta de uma Universidade que suprimisse as necessidades de profissionais de nível superior, principalmente para o magistério, na Região Oeste, no Vale do Assú e nos municípios fronteiriços da Paraíba e Ceará, foi sanada com a criação da URRN, hoje UERN. A nossa Universidade foi criada como uma Fundação Municipal, ela, mesmo funcionando com dificuldades, supria a necessidade de uma instituição de ensino superior nessas regiões.


Mesmo tendo sido criada pelo Município de Mossoró, no final da gestão de Raimundo Soares (1968), ela nunca foi bem vista pelos alcaides mossoroenses. Segundo eles, a universidade era um peso para o erário municipal, mesmo com a sua manutenção compartilhada com os alunos. Os prefeitos reclamavam dos repasses que faziam.


Nessa época os professores eram muito mais colaboradores do que profissionais da instituição, chegamos a ficar dez meses sem receber salários. Isso foi possível nos primeiros anos da instituição. Com o crescimento e a necessidade da profissionalização dos seus quadros docentes e do pessoal técnico-administrativo, foi necessário buscar uma solução definitiva. A FURRN não poderia continuar sendo uma instituição amadora no oferecimento de cursos de nível superior.


Foi a partir dessa constatação que um pequeno grupo de professores iniciou um movimento com o objetivo de criar uma entidade de classe que pudesse liderar a luta pela definição institucional da URRN. Com esse objetivo foi criada a Associação dos Docentes, a heróica ADFURRN, fato ocorrido no dia 10 de setembro de 1980.


Era o inicio de todo um processo de transformação da URRN, que culminou com a sua estadualização. Foi uma luta difícil, que contou com a mobilização de toda sociedade potiguar. Ocorreu uma grande pressão popular, conduzida pela liderança do reitor da época, Padre Sátiro, tendo como esteio principal e basilar a ADFURRN.


Após a estadualização, as dificuldades com o Poder Executivo continuaram, a partir de então com os gestores estaduais, com menos intensidade nos governos de Geraldo Melo e Wilma de Faria. Geraldo foi o governador da estadualização, ele deixou a universidade à vontade na elaboração do seu novo estatuto e no tipo de universidade que os diversos segmentos queriam criar. O outro governo, o da Professora Wilma de Faria, sempre teve um olhar de compromisso com a instituição, existia um bom relacionamento entre o governo e a UERN.


José Agripino e Garibaldi Alves, neoliberais por convicção, não olharam com bons olhos para a UERN. Diminuir a máquina estatal, com uma política de arrocho salarial, era o que interessava. Foi um momento de achatamento salarial.


No governo Rosalba, o neoliberalismo voltou com toda força, o enfrentamento com os servidores públicos, a diminuição da máquina estatal, a utilização da Lei de Responsabilidade Fiscal, do famigerado Limite Prudencial, como argumento para o arrocho salarial, voltou a ser prioridade. Não existe diálogo, o governo impõe a sua vontade, e pronto.


O pior é a apatia da população, a falta de interesse do povo pela escola pública. A UERN está em greve há mais de três meses, e grande parte da mídia, amordaçada pela força de um governo que sabe utilizar as armas do poder, não diz nada. Na Assembléia Legislativa, a oposição sem espaço para ecoar as suas denúncias fica neutralizada. O povo, sem informações corretas, se posiciona contra a greve. O que fazer então? Acho que o movimento grevista necessita de uma nova estratégia de luta, precisa sensibilizar a sociedade e trazê-la para o seu lado. O atual governo é neoliberal e privatista por ideologia. Portanto, o arrocho salarial faz parte do seu programa de governo, além de ser privatista ele é favorável a ideia do estado mínimo.




Fonte: Antonio Capistrano / Portal Vermelho





Grande verdade...

‎"Se um médico, um advogado ou um político tivessem, de uma só vez, 30 pessoas no seu gabinete, todas elas com diferentes necessidades e algumas que não querem estar ali. E o médico, o advogado ou o político tivessem que tratar a todas essas pessoas com elevado profissionalismo durante dez meses por ano, cinco dias por semana, nos três turnos; então poderiam fazer uma ideia do que é o trabalho de um professor em sala de aula."

[Esse texto circula pelo Facebook, porém desconheço sua autoria.]

Ensina a teu filho


FREI BETTO - Artigo - O Estado de S. Paulo


Ensina a teu filho que o Brasil tem jeito e que ele deve crescer feliz por ser brasileiro. Há neste país juízes justos, ainda que esta verdade soe como cacófato. Juízes que, como meu pai, nunca empregaram familiares, embora tivessem filhos advogados, jamais fizeram da função um meio de angariar mordomias e, isentos, deram ganho de causa também a pobres, contrariando patrões gananciosos ou empresas que se viram obrigadas a aprender que, para certos homens, a honra é inegociável.

Ensina a teu filho que neste país há políticos íntegros como Antônio Pinheiro, pai do jornalista Chico Pinheiro, que revelou na mídia seu contracheque de parlamentar e devolveu aos cofres públicos jetons de procedência duvidosa.

Saiba o teu filho que, no monolito preto do Banco Central, em Brasília, onde trabalham cerca de 3 mil pessoas, a maioria é honrada e, porque não é cega, indignada ante maracutaias de autoridades que deveriam primar pela ética no cargo que lhes foi confiado.

Ensina a teu filho que não ter talento esportivo ou rosto e corpo de modelo, e sentir-se feio diante dos padrões vigentes de beleza, não é motivo para ele perder a auto-estima. A felicidade não se compra nem é um troféu que se ganha vencendo a concorrência. Tece-se de valores e virtudes e desenha, em nossa existência, um sentido pelo qual vale a pena viver e morrer.

Ensina a teu filho que o Brasil possui dimensões continentais e as mais fertéis terras do planeta. Não se justifica, pois, tanta terra sem gente e tanta gente sem terra. Assim como a libertação dos escravos tardou, mas chegou, a reforma agrária haverá de se implantar. Tomara que regada com muito pouco sangue.

Saiba o teu filho que os sem-terra que ocupam áreas ociosas e prédios públicos são, hoje, chamados de "bandidos", como outrora a pecha caiu sobre Gandhi sentado nos trilhos das ferrovias inglesas e Luther King ocupando escolas vetadas aos negros.

Ensina a teu filho que pioneiros e profetas, de Jesus a Tiradentes, de Francisco de Assis a Nelson Mandela, são invariavelmente tratados, pela elite de seu tempo, como subversivos, malfeitores, visionários.

Ensina a teu filho que o Brasil é uma nação trabalhadora e criativa. Milhões de brasileiros levantam cedo todos os dias, comem aquém de suas necessidades e consomem a maior parcela de sua vida no trabalho, em troca de um salário que não lhes assegura sequer o acesso à casa própria. No entanto, essa gente é incapaz de furtar um lápis do escritório, um tijolo da obra, uma ferramenta da fábrica. Sente-se honrada por não descer ao ralo que nivela bandidos de colarinho branco com os pés-de-chinelo. É gente feita daquela matéria-prima dos lixeiros de Vitória que entregaram à polícia sacolas recheadas de dinheiro que assaltantes de banco haviam escondido numa caçamba.

Ensina teu filho a evitar a via preferencial dessa sociedade neoliberal que nos tenta incutir que ser consumidor é mais importante que ser cidadão, incensa quem esbanja fortuna e realça mais a estética que a ética.

Saiba o teu filho que o Brasil é a terra de índios que não se curvaram ao jugo português e de Zumbi, de Angelim e frei Caneca, de madre Joana Angélica e Anita Garibaldi, dom Hélder Câmara e Chico Mendes.

Ensina a teu filho que ele não precisa concordar com a desordem estabelecida e que será feliz se se unir àqueles que lutam por transformações sociais que tornem este país livre e justo. Então, ele transmitirá a teu neto o legado de tua sabedoria.

Ensina teu filho a votar com consciência e jamais ter nojo de política, pois quem age assim é governado por quem não tem e, se a maioria tiver a mesma reação, será o fim da democracia. Que o teu voto e o dele sejam em prol da justiça social e dos direitos dos brasileiros imerecidamente tão pobres e excluídos, por razões políticas, dos dons da vida.

Ensina a teu filho que a uma pessoa bastam o pão, o vinho e um grande amor. Cultiva nele os desejos do espírito. Saiba o teu filho escutar o silêncio, reverenciar as expressões de vida e deixar-se amar por Deus que o habita.

GREVE na UERN: NOTA DE ESCLARECIMENTO


NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE A POSIÇÃO OFICIAL DO GOVERNO EM RELAÇÃO A GREVE DA UERN
Secretário vê motivação política para a manutenção de greve na UERN.
  


A manchete acima corresponde a matéria publicada sábado 27 de agosto de 2011 no Jornal de Fato (ver texto completo no link: 
http://www.defato.com/politica.php). Através dela, o porta voz oficial do governo do Estado, Secretário de Administração José Anselmo de Carvalho, provavelmente orientado pela Governadora Rosalba Ciarline, acusa a greve da UERN de está sendo conduzida por interesses político-partidários. Vejam na íntegra o que afirma o secretário: "O que surpreende é a questão da rejeição das propostas que o governo faz e, por isso, não descarto que (a greve) tenha influências partidárias (...)As suspeitas de ingerência partidária se devem ao fato da maioria dos militantes sindicais estarem ligados a partidos políticos que tendem a apresentar candidatos nas próximas eleições municipais. Como a UERN é sediada em Mossoró, o objetivo seria beneficiar nomes ligados ao PT e ao PSB”.



Antes que tudo, inicialmente fazemos os seguintes esclarecimentos:


1.  O Comando de Greve dos Professores é suprapartidário, ou seja, nele encontram-se professores filiados ao PT, PCdoB e PMDB. Não identificamos nenhum membro filiado ao PSB, pelos menos ninguém se manifestou enquanto tal; também não sondamos essa possibilidade e muito menos investigamos a vida política partidária de nenhum membro. É necessário reter que a maioria de seus membros não tem nenhuma filiação partidária. Alguns até já manifestaram ter votado em Rosalba Ciarline para o governo do Estado;


2.  A Assembléia Geral dos Professores é a instância que delibera o início e o fim da greve. Cada membro do Comando tem apenas um voto na Assembléia Geral.

3.  Sobre nossas reivindicações, esclarecemos que, o que estamos reivindicando do ponto de vista salarial (23,98%) é um direito que a categoria conquistou através de seu Plano de Cargos e Salário de 1989. Imbuído de nossa responsabilidade institucional, nossa pauta de reivindicações também inclui: descontingenciamento do orçamento da UERN; suplementação de verbas, autonomia financeira, entre outros;


4.  Em relação ao movimento paredista, o Governo só se manifestou oficialmente com aproximadamente 20 dias de greve, mesmo assim de forma vazia, tendo em vista que propôs que a greve fosse suspensa uma vez que só em setembro de 2011 o governo teria possibilidade de atender as reivindicações;

5.  Em seguida, com aproximadamente 50 dias de greve o governo propôs a possibilidade de aumento para 2011 de 3% “se o limite prudencial do Estado não for um elemento impeditivo”;


6.  Finalmente, com 70 dias de greve o governo do Estado propôs oficialmente o escalonamento dos 23,98% reivindicado até 2014;


7.  A ADUERN comandou diversas greves nos três últimos governos estaduais: Garibaldi Filho, Vilma de Faria e Rosalba Ciarline. Vale ressaltar que desses três governos foi a Governadora Vilma de Faria quem mais atendeu as reivindicações salariais dos professores, chegando em 07 anos de governo a aproximadamente 110% de aumento para a categoria. Vale acrescentar também, que mesmo assim foi no governo Vilma de Faria que mais aconteceram greves na UERN. Isto é uma prova inconteste que a greve não é partidária, mas move-se por interesses estritamente institucionais;


Dizer que a categoria sistematicamente recusou as propostas do governo não condiz com a verdade, afinal, pelo exposto só com 70 dias de greve foi que o executivo estadual fez uma proposta concreta e discutível. Diante desta, abrindo mão da pauta original, a categoria de professores aceitou os prazos e os índices propostos pelo executivo estadual na certeza e com a convicção de que estava contribuindo para resolver o impasse. Nossa resposta ao governo incorporava sua proposição e acrescentava aos índices sugeridos os percentuais correspondentes a variação da inflação acumulada no período como forma de não impor perdas salariais à categoria ao longo dos próximos anos. Ressalte-se que no início do processo de negociação, membros do governo já haviam sinalizado positivamente com a possibilidade de atender o percentual apresentado, corrigindo os índices sugeridos, assim como acrescentado dos resíduos inflacionários que porventura existissem. Neste aspecto, foi o governo quem recuou de sua proposta.


Ainda sobre a ampla pauta de reivindicações da greve, em diversas ocasiões o Governo Estadual se comprometeu em descontingenciar os recursos financeiros da UERN. Entretanto, até este momento a liberação dos recursos não foi efetivada. Quem se nega a negociar?


Na verdade, o Secretário Anselmo Carvalho na medida em que acusa o movimento paredista de partidarismo tenta rebaixar e desqualificar o debate. Porque ao invés de se deter e opinar sobre a pauta de reivindicações da categoria, que é a motivação maior da greve, faz ilações especulativas em torno de intenções que só existem em sua mente, porque os fatos reais não correspondem às suas supostas afirmações.


Também é preciso reter, que em diversas ocasiões a governadora Rosalba Ciarline acusou o movimento paredista de ser partidário, uma vez “que no governo de Vilma de Faria a categoria aceitou um escalonamento de três anos, mas no governo dela esta mesma categoria não se dispõe a aceitar o mesmo escalonamento”. Aqui cabe um esclarecimento crucial: em primeiro lugar no governo Vilma de Faria nós aceitamos uma escalonamento de três anos para o correspondente a 64% e não para 27% em três anos como propõe a governadora Rosalba Ciarline. Em segundo lugar, em 2007, ano do acordo com a Governadora Vilma de Faria, a inflação não chegava a 2% ao ano. Em 2011 a inflação pode chegar a um patamar de 6,5%, com projeções para 2012, 2013 e 2014 de 21% de inflação acumulada.


As insinuações provocativas do secretário têm como objetivo central escamotear as reais intenções do governo para com a UERN. Aqui cabe uma pergunta fundamental: Por que o governo contingenciou os recursos financeiros da instituição? Esta medida tem motivação política ou é de outra natureza? Por fim, diante de fatos tão incontestáveis, a conclusão isenta, ilibada e imparcial sobre o histórico deste movimento paredista, é que quem “esticou a corda da greve” foi o Governo Estadual.


Prof. Flaubert Fernandes Torquato Lopes
Presidente da ADUERN
Prof. Carlos Alberto Nascimento de Andrade
Membro do Comando de Greve dos Professores da

domingo, 28 de agosto de 2011

Romance de Domingo


Aventuras do Menino Danta e seu amigo Guerra
  Por William Guerra*



CAPÍTULO XXII

         Guerra caminhou sozinho pela rua, mãos nos bolsos do calção. Pensava no padrinho, na sua desdita. Como seria o falatório das pessoas. Cidade pequena, nada para fazer, aí os mexericos se multiplicam. Tinha que fazer alguma coisa. Mas o que? Nada! Nesses casos não há como solucionar somente com palavras. Ações, talvez. Quais? Não! O caso seria devastador. Assim como o estouro de uma boiada, sem controle; como o arrombamento de um açude, as águas levando tudo que encontra pela frente. A desgraça estava feita. Basta um pedacinho de mentira para que se torne qualquer assunto indesejado – em especial sobre mulher tendo caso com home, imagina com o padre da comunidade! – num gigantesco falatório da maldade. As pessoas vão acrescentando coisas, aumentando, até que, passado algum tempo, a situação seja de incômodo e conseqüências outras virão. Que fazer? Perguntava-se o afilhado do Padre Benedito Basílio Alves.

         Subiu os batentes altos da casa do seu avô, Adrião Bezerra. Na porta deu de cara com Vicência, sua tia. Isto é, tia de criação, se é que se pode ter uma parenta como tia de criação. Sim, pois Vicência foi criada por seu avô, desde o primeiro dia de nascimento. Irmã de Nhá, sua mãe. Cresceram juntas. Vicência é que quem faz todo o serviço da casa. Ainda bem jovem. Sua mãe, mulher de Adrião Bezerra já faleceu há alguns anos. Adrião Bezerra ainda tinha outro filho além de Nhá. Chamava-se Adrião Bezerra Filho, que todos o conheciam apenas por Adriãozinho0. Foi embora para outra cidade distante, nunca mais mandou notícias. Quem sabe um dia apareça de repente?

         Vicência abriu a porta, Guerra foi abraçar a avô que se balançava na sua tipóia de sempre. Quando o viu fez uma festa. Adrião Bezerra queria muito bem a este neto. Não mais que a João batista, mas é que este vivia com problemas. Problemas de menino. Coisas de criança. Como o pai era severo demais e a mãe sempre a lhe passar a a mão na cabeça, ele, Adrião Bezerra tomou a responsabilidade para si para orientar o garoto na verdadeira estrada, no caminho do bem. Era uma espécie de meio-termo; nem tão rígido, mas também não muito bomzinho demais.

         Foi sentando-se na rede e exclamando:

         - Vem de lá um abraço, Guerra! Estava com saudade do meu neto preferido.

         E ria mostrando os dentes que começavam a ficar amarelos. Falta de escova? Fumo. Nestas paragens as pessoas mais antigas costumam fazer a higiene bucal com polpa de juá. Nem sabemos se era o caso de Adrião Bezerra. Na verdade ele ria para valer abraçando o Guerra. Que ficou com os olhos marejados.

         - Di9z filho, o que o traz aqui a esta hora da manhã/ Não foi com seus amigos se banhar na lagoa?

         Perguntou, enquanto se equilibrava melhor na rede, indicando uma cadeira para o pequeno neto.

         - Nada não. É que estou com um troço aqui dentro de mim apertando...

         Disse, ao mesmo tempo enxugava a vista com as mãos.
         Adrião Bezerra alisou a barba branca. Seus olhos azuis miraram o menino. Descobriu que sofria. Tão pequeno e já tem que se preocupar com coisas dessa vida? Mandou que Vicência trouxesse um copo com água, ordenou que Guerra o bebesse. Depois, com calma, olhando para  a rua deserta. O sol cobria a areia daquela rua antiga, e, com atenção, Adrião Bezerra vislumbrou, do outro lado, como os raios penetravam nas árvores seculares enfileiradas que, mais tarde, ofereceriam uma sombra amiga aos que precisassem de descanso. As folhas dançavam pela ação de pouco vento que soprava naquela hora, e os reflexos pareciam pequenas gotas de água assim vistas de longe. Mistérios da natureza. Pensou.

         Para desatar o nó do coração daquele seu neto de apenas doze anos, indagou com acentuada animação:

         - Que aconteceu Guerra! Você é o ás da lagoa, o rei da rua, o menino mais esperto de Verdejante, querendo fraquejar? Conta para o seu velho amigo e avô o que se passa que nós dois juntos resolveremos?

         O menino até que esboçou um riso sem graça. Mas como também não era de ficar só no terreno das lamentações, foi direto ao ponto:

         - É sobre o meu padrinho, padre Benedito...

         Adrião Bezerra pegou de uma caixinha que se encontrava debaixo da rede. Retirou um charuto que o padre Benedito lhe havia dado de presente. Ordenou que Vicência lhe trouxesse uma xícara de café. Satisfeito, perguntou se o menino também queria café. Respondeu que não com a cabeça. Acendeu o charuto. A fumaça rodopiava na sala. Na parede uns bibelôs feitos de barro, mas bem pintados: desenhos de frutas e uma linda jovem segurando um cesto com flores. Comprados em Canindé, quando foram pagar promessa Adrião, a mulher e os filhos há muito tempo atrás. E mais em cima uma cruz e Jesus pregado nela. Toda casa tinha um crucifixo daqueles e, no quarto de dormir, um oratório para as orações diárias.

         - Que é que tem o padre Benedito Basílio Alves?

         Perguntou olhando nos olhos do menino. Queria antecipara uma resposta e qual o assunto que o afligia sobre o Vigário, padrinho muito querido do neto.

         - O povo fala na rua que Mercês está para ter bebê e que é filho dele....

         Adrião Bezerra deixou passar uns instantes. Chupou o seu charuto com mais força. Pegou a bengala inseparável e ficou de pé sem dificuldade nenhuma. Deu alguns passos. Foi até à porta e sentiu o sol no rosto. Começava a esquentar. Voltou e ficou por trás da cadeira na qual o neto se encontrava. Foi falando:

         - Primeiro, Guerra, isso é uma grande mentira. Segundo não é assunto para deixar você atormentado. Uma criança tem mais é que brincar e se divertir e estudar. Terceiro, eu lhe pergunto: aonde ouviu essa história?

         Guerra também ficou de pé, virou-se e respondeu:

         - Wilson. O pai dele comentava em casa com a mulher e ele ouviu.

         Adrião Bezerra ainda perguntou mais uma vez antes de encerrar a conversa:

         - Ouviu o que?

         - O pai dele dizendo que Mercês está de bucho e que foi o padre Benedito, meu padrinho, quem fez o bucho nela.

         O avô de Guerra sacudiu no meio da rua o toco que restou do charuto. Depois pegou nos ombros do menino e o tranquilizou:

         - Filho vai brincar com os seus amigos. Faz o que uma criança na sua idade tem que fazer. Depois estuda com o seu irmão João Batista. Viva sem preocupação. Essa história está muito mal contada. Deixa comigo que eu vou saber de tudo. Caso alguma coisa tenha fundo de verdade, deixa que os adultos e o padre Benedito resolvam. Você não. Estamos entendidos.

         Guerra fez sim com a cabeça. Mas o avô ainda forçou:

         - Promete que não vai ficar com isso na sua cabeça? E quando vierem lhe dizer essas coisas responda assim: não tenho nada  aver com isso, e mesmo é mentira. Pronto. Prometa que agirá assim?

         Guerra prometeu. Disse que não mais falaria naquele assunto. Mas também pediu ao avô:

         - Só quero que o senhor converse com o meu padrinho e ajude a ele não ir embora de Verdejante... O senhor também promete?
        
         - Sim... Fique despreocupado. Padre Benedito nunca vai sair de Verdejante. Eu prometo...

         E saiu em disparada  encontrar Wilson e Danta.

         Vicência chega perto de Adrião Bezerra. Ouvira tudo, mesmo fazendo uma coisa e outra não pôde deixar de escutar a palestra entre avô e neto. Vicência chamava Adrião Bezerra de pai Adrião. E assim se expressou:

         - Pai Adrião, o que é que vai acontecer agora? Sim porque acho que a rua já deve estar cheia dessa mentira...!

         Adrião Bezerra colocou o chapéu de massa e saiu apressado sem responder à jovem Vicência. Como ia bastante apressado, algo deveria estar acontecendo, suspeitou o delegado Luiz Marchante que cruzava com o ancião.

         - Que está acontecendo, Adrião? Parece que viu o que não devia?

         O homem de olhos azuis, barba branca e que já foi tropeiro e também prefeito de Verdejante, parou e retirando o chapéu, respondeu:
         - Não vi nada. Mas estimaria que o senhor fizesse alguma coisa para justificar o seu cargo e o que ganha para isso. E se não tem ganhado nenhum pelo menos é prestigiado pelo prefeito. Por que não prende o homem que roubou o bode Merlim? E tem mais, nunca mais vá à casa de Nhá, minha filha pressiona-la por nada está ouvindo? Se continuar metendo o nariz onde não deve vai perder este posto de delegado já, já! E passar bem...!

         O delegado ficou sem ação. Que foi que eu disse demais? Pensou lá com os seus botões. Cada uma que me acontece? E foi-se, quase correndo, rumo à Delegacia. Tinha que mostrar serviço. Já muita gente lhe reclamava sobre vários acontecimentos. O coronel Lucas Pinto, o prefeito, lhe chamara a atenção. Tinha que agir.

         Entrou na Delegacia com muita pressa. Bino, o carcereiro, encontrava-se prosando com os soldados. Era uma característica de Bino, ficar com brincadeiras com um e com outro. Isso ainda iria ser muito ruim para Bino, disse de si para consigo o delegado Luiz Marchante. Chamou todos os soldados e ordenou:

         - Vão todos.  Todos os oito e mais o cabo Sabino. À casa de Beija, no Jatobá e prendam um sujeito que atende pelo nome de Jesus. Já combinei tudo com Beija. Não me venham sem o meliante!

         O cabo Sabino, preto musculoso e preparado para quaisquer empreitadas, indagou do delegado:

         - E quem diabo é esse tal de Jesus? O que foi que ele fez?

         Luiz Marchante cortou a conversa pelo tronco:

         - Vá e deixa de especulação! É Jesus e acabou-se!

         O cabo obedeceu, mas antes deu uma olhadela para o delegado que, se estivesse percebido, certamente não teria gostado. Foi um sinal de desaprovação pela atitude que o delegado naquele instante. Primeiro deixa a delegacia desguarnecida. Depois para prender um homem por nome de Jesus, manda nove policiais aramados, ainda por cima. Bino também deu uma opinião, embora os a Polícia inteira de Verdejante já estivesse bem distante da Delegacia.
        
         - Delegado Luiz, por favor, tome ciência, por favor! Foi todo mundo prender Jesus. E quem fica guardando a Cadeia Pública?

         Luiz Marchante retirou o chapéu do panamá e coçou a cabeça. Histrionicamente falou:

         - Arre que eu não pensei nisso! Tenho que ficar aqui até os homens voltarem. Por que você não me falou logo, Bino?

         Bino ria e prosava. Como diziam as pessoas: troçava com a acara do delegado.

         - Como? Chega o senhor passando por cima de todo mundo. Manda os policiais prender uma pessoa que ninguém sabe quem é, mas que tem o bonito nome de Jesus! Não escuta nem o cabo Sabino? Como queria que eu lhe avisasse que bastavam dois soldados para trazer o hóspede de Beija?

         Recolocando o chapéu, Luiz Marchante foi sentar na sua cadeira por trás da escrivaninha de delegado existente naquela sala.

         E subiu o patamar da igreja, Adrião Bezerra também retira o chapéu e entra no templo pela porta principal, faz genuflexão diante do Altar-Mor e senta num banco à direita. Cotó, Tilde e Adofina nem perceberam a chegada daquele homem miúdo, teimoso e sábio, que estava ali justamente para conversar com as três.

         Adrião Bezerra arquitetou um plano para rebater os boatos sobre o padre Benedito Basílio Alves e Mercês. Eram, as três mulheres mais assíduas da igreja, bem conceituadas na cidade. Quando falavam influenciavam os demais. Betas, sim, mas mulheres sérias e trabalhadoras do lugar.

         Adofina, casada com o secretário do Sindicato da cidade, Domingos Freire, vereador e homem respeitado, sua atuação era nos afazeres de casa e rezar. Tilde, dona de casa e casada com Rapozinha, homem de bem e funcionário antigo da Prefeitura. Cotó, moça velha, doceira requisitada e feitora de bolos e suspiros. Filha do fogueteiro seu Lúcio.

         Portanto, as três beatas, assim consideradas porque, segundo a própria população, mais fácil faltar o padre na missa do que as três na igreja. Uma verdade que em muito fazia bem a todos, pois as três rezavam pelos que nunca vinha à igreja rezar. Respeitadas e amadas poderiam levar um assunto adiante, mas também tinham o poder de destruir qualquer assunto no seu nascedouro.

         O plano de Adrião Bezerra estava pronto em sua cabeça. Agora era rezar para que as três concordassem com a sua proposta. Para que as três que se encontravam absortas rezando, cada uma contando as contas do seu terço respectivo, Adrião Bezerra pigarreou de propósito.
         As mulheres se voltaram ao mesmo tempo em direção ao banco de trás. Lá estava com os seus olhos azuis e sua barba branca de papai Noel, o conhecido e popular homem mais teimoso desta cidade de Verdejante.

         Tilde, parando e marcando a conta no terço, indagou:

         - Que novidade, homem. Adrião Bzerra, você aqui a essa hora? Uma alma vai se salvar. Veio rezar por quem?

         Adrião estava de bom humor. Precisava conquistar as tr~es para o seu lado, para o lado do padre Benedito. Tudo que elas dissessem, nem que fosse chamando-o de ateu e herege, desculparia e até elogiaria as suas beatices. Ele riu e retribuiu:

         - Estas portas não se fecham, são os braços de Jesus...

         Adofina concordou:

         - Isso Adrião. Bom que você voltasse a assistir às missas aos domingos. Tem uma grande amizade com o padre Benedito e não freqüenta a igreja?

         O homem concordou com toda delicadeza com Adofina.

         - É. Você tem razão. Vou vê se volto aos velhos tempos...

         Cotó, porém, observou que já era uma grande coisa ele se encontrar naquela manhã no templo de Nossa Senhora da Conceição e São João Batista. Afinal aproxima-se o natal e Maria de Dodô, do outro lado, perto da imagem do Senhor Morto, aprontava o Presépio. Sozinha. Não queria a ajuda de ninguém. O padre lhe autorizava e ela gostava assim. O mérito da beleza da manjedoura que representava o lugar onde Jesus nasceu era de sua responsabilidade.

         A doceira observou:

         - Adrião, você mora tão pertinho, devia freqüentar mais a igreja; Dá exemplo para os outros homens que também estão distantes de Deus...

         Solícito e com um riso permanente respondeu:

         - Isso mesmo. Podem contar comigo. Estou de volta à igreja. Não virei lá algum domingo perdido como antes, não. Virei todo domingo e, na medida do possível, durante a semana também.

         Parece que estou ganhando as três para o meu lado. Pensava. Aí aproveitou do momento em que as mulheres lhes davam atenção, puxou o assunto: Mas com muito cuidado, como se estivesse cuidando com vidro fino para não quebrar.

         - Senhora. Na verdade estou aqui para conversar um delicado assunto com vocês...

         As beatas viraram novamente as respectivas cabeças para trás. Deixaram os terços de mão. Pararam de rezar. Benzeram-se. E, curiosas, queriam saber do que se tratava imediatamente.

         Adrião Bezerra não se fez de rogado e satisfez aquela curiosidade tão peculiar nos habitantes de Verdejante, principalmente nas três freqüentadoras diárias da igreja pór várias vezes durante o dia.

         - Bom. O padre Benedito Basílio Alves, nosso amigo, Vigário há muito tempo servindo à nossa comunidade, está em apuros...

         Arregalaram os olhos, olharam uma para a outra, até a do meio saiu da frente para s as duas das pontas também se encontre-olharem. E cada uma pensou a mesmas coisas dentro de si mesmas sem pronunciarem palavra alguma: o padre Benedito estará doente? Fez alguma coisa que n ao devia? Ou é o assunto da empregada?

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RESUMO; O que falta acontecer na pequena Verdejante? Coronel Chico Pinto entra em cena. O coronel Dito sdaldanha, também. Como vai se sair padre Benedito desse falatório que vem por aí? Só lendo os próximos capítulos para descobrirmos. Nem eu que escrevo a história, sei... Já pensaram?

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* William Lopes Guerra é advogado, pesquisador e escritor em Apodi, herdeiro dos direitos autorias do pai.