sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Brasil,Professor é tratado assim…Mão de Obra Barata



Há uma frase circulando pela internet, atribuída ao humorista Jô Soares, que diz: “O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!”. Pela acidez verdadeira da oração, se a afirmação não veio do apresentador beijoqueiro, só pode ter vindo de algum representante do Governo Federal. Afinal, o descaramento com que a administração pública nacional trata os docentes deste Brasil é tão absurda que uma piadinha a mais vinda do Palácio do Planalto seria fichinha diante da seriedade do desmonte que se pretende no setor da Educação tupiniquim.



Esse é um bom momento para tratar do assunto, quando docentes de universidades e instituições federais de todo País – sem contar aqueles, ainda mais massacrados, que atuam em unidades de ensino municipais e estaduais – se organizam para deflagrar e/ou discutir greves, mobilizações e ações de enfrentamento a propostas indecentes que correm apressadas pelos corredores e plenárias da Câmara e Senado federais.


Uma dessas propostas é o Projeto de Lei Complementar 549/2010 que, resumidamente, aponta para o congelamento do salário de servidores públicos por nada menos que dez anos, além de impedir a realização de concursos para reposição de pessoal e controle a rédea curta os gastos com investimento na administração pública. Quem propõe tal absurdo é ninguém menos que a Casa Civil, autora do texto já aprovado no Senado e que tramita na Câmara dos Deputados.


Curioso é que, como abordado há poucos dias, neste espaço, há casos em que Projetos de Lei tramitam por mais de uma década em Brasília, sem que haja uma decisão a respeito da matéria. Quando o assunto é sucatear ainda mais o serviço público – em especial, aqui, a Educação – os trâmites são exemplarmente céleres. Daí, em boa parte, a correria por mobilizações, mesas de negociações e greves nas instituições Brasil afora. Como sempre, depois de acesa a centelha são os servidores quem precisam correr até Brasília para tentar apagar o incêndio.


No caso dos professores de instituições federais, existe um agravante. É que grande parte da população acredita piamente que docente de Ensino Superior, no Brasil, é rico. Belíssimo engano. Na verdade, essa é provavelmente a categoria que menos ganha entre os lotados no serviço público federal, se comparados níveis e titulações. Aliás, nem chega a isso. Uma lista de “tristes curiosidades do Brasil”, que está publicada inclusive na página e-democracia, da Câmara Federal na Internet, aponta que “um diretor sem diretoria do Senado ganha o dobro do que recebe um professor universitário federal concursado, com mestrado, doutorado e prestígio internacional”. Até ontem, ninguém da Câmara havia respondido ou mesmo retrucado a informação contida no site oficial.


Não é raro encontrar alunos nos corredores conversando sobre o status de professores, suas riquezas e afins. O que parece, de fato, é que muitos docentes evitam comentar salários não por charme de riquinho, mas por certo constrangimento. Afinal, não é difícil encontrar aluno que ganha, como autônomo, empresário ou ‘filhinho de papai’ mais do que seu professor. Não que isso seja errado ou houvesse uma competição entre classes, mas diante dos anos de estudo dedicados e da responsabilidade que carrega um docente, a situação é mesmo vergonhosa.


Vamos lá. Para se ter uma idéia, um professor de Instituto Federal com mestrado recebe, em seu vencimento básico, R$ 1.115,02. O restante do vencimento no contracheque vem de gratificações nunca incorporadas e que podem mudar ao sabor dos ventos de governos. Ali, nos IFs, a greve é por 14% de reajuste e aumento de 10% do PIB para a Educação. Em uma Universidade Federal o vencimento básico de um docente com doutorado e dedicação exclusiva – ou seja, esse profissional não pode exercer qualquer outra função fora da Instituição – é de meros R$ 2.318,71. Há uma lista de oportunidades em concursos, até mesmo para o nível médio, onde os salários iniciais passam muito acima dessas cifras. Sinceramente, você passaria por um concurso em três fases, depois de ter encarado pelo menos mais seis anos pós-graduação, para ganhar isso?


Sim, muitos se esforçam por isso. E o fazem porque professor de verdade é vocação, tem que gostar do que faz. Mas vocação, apenas, não enche barriga, não produz dividendos para criar filhos, não significa ignorância financeira. E ninguém gosta de ser tratado como “o material mais barato que existe na praça”.



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(*) Texto publicado na coluna #CotidianaMente, do Jornal A União, edição de 5 de agosto de 2011


O texto acima me fora enviado por e-mail pela amiga e colega de profissão, Francione Brito

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