sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Povo leitor, país desenvolvido

O jornal Diário de Natal traz em sua edição de hoje (25/02) o artigo "Biblioteca não é luxo", da educadora Cláudia Santa Rosa¹. Em seu artigo, cuja leitura recomendo, Cláudia relata a significativa experiência vivenciada durante um intercâmbio cultural, na Colômbia, onde teve a oportunidade de, entre outras coisas, visitar bibliotecas, que ela classificou como esplendorosas, em Bogotá, considerada a Capital Mundial das Bibliotecas. Essa experiência, segundo a professora, veio ratificar sua convicção de que biblioteca não é luxo, mas um equipamento de fundamental importância para garantirmos o direito de toda população ao acesso à cultura escrita. Diante da constatação, Cláudia questiona então o fato de termos um número ínfimo de bibliotecas públicas em nosso país e, pior, de cuidarmos tão mal das poucas que temos.

O questionamento da colega é justo. Leitura em nosso país, assim como educação e cultura, não é, como deveria ser, uma prioridade. E não é preciso ir muito longe para comprovar isso. Basta observarmos ao nosso redor. Em Apodi, por exemplo, há apenas uma única biblioteca pública e não se tem conhecimento de qualquer projeto ou intenção de melhoria de sua limitada infraestrutura e funcionamento, nem de ampliação de seu acervo. Muito menos se conhece algum plano de construção de novas bibliotecas. O que me deixa mais indignada é que não parece se tratar de falta de recursos, afinal volta e meia são construídas praças em nossa cidade. Então, pergunto: por que não incluir nessas praças uma biblioteca, museu ou espaço cultural? Ao invés disso, são erguidos bares, incentivando ainda mais o já elevado consumo de álcool entre os jovens. Sem opções de um entretimento mais cultural, só resta a nossos jovens fazer o que manda uma certa música: "beber, cair e levantar".

Até em nossas escolas, onde a leitura deveria ser o ponto central, a biblioteca é largada em segundo ou terceiro plano. Em muitas, só encontramos poeira e livros velhos. Em outras, até existe um bom acervo, contudo, os livros se encontram abandonados, mesmo quando bem arrumados em suas prateleiras, pois não há qualquer trabalho de incentivo ou promoção à leitura. Isso provavelmente se deve ao fato de que boa parte das bibliotecas públicas ou escolares se encontram coordenadas por pessoas sem qualquer afinidade ou compromisso com o mundo literário.

Na maioria das escolas da rede estadual de ensino do Rio Grande do Norte, por exemplo, os critérios para trabalhar nesse espaço é ter um padrinho político para dar aquele "jeitinho" ou a chamada readaptação de função, que ocorre quando o professor se encontra acometido de alguma doença e por isso impossibilitado de realizar o exercício do magistério. A maioria desses profissionais, já desgastados devido a suas doenças, realizam na biblioteca um trabalho apático, tornando-se, muitas vezes, um mero guardador de livros. Mas não se pode também negar que há professores que assim agem tão somente por não terem qualquer comprometimento com a educação.

Porém não se pode culpar exclusivamente o professor. A questão aí é de gerenciamento, afinal são nossos gestores educacionais que estabelecem esses critérios. Se a leitura fosse vista como elemento fundamental no meio escolar, certamente os princípios básicos para coordenar uma biblioteca seriam: compromisso e afinidade com a literatura, experiência na promoção à leitura (dentro ou fora de sala de aula) e um plano de trabalho direcionado ao estímulo do gosto pela leitura.


Se assim fosse,  com certeza, teríamos escolas verdadeiramente formadoras de leitores e não essas que, com suas práticas retrógradas, mal planejadas e incoerentes, só afastam cada dia mais os alunos do mundo literário. Como afirma Daniel Pennac, “o verbo ler não suporta o imperativo”. Quando transformada em obrigação, a leitura se resume a simples enfado. É preciso, então, favorecer à prática de leitura por prazer, no ambiente escolar ou fora dele. Embora essa não seja uma missão das mais fáceis, experiências, como as do Programa Prazer em Ler, mostram que é possível.

Diante do cenário acima desenhado, conclui-se que, se o Brasil quer mudar seus índices educacionais e continuar seu desenvolvimento econômico, precisa urgentemente imprimir uma nova mentalidade em seus gestores (em todas as esferas). É  fundamental que se reveja a forma como a prática de incentivo à cultura  literária é desenvolvida em nossas escolas e bibliotecas. Precisamos ampliar e melhorar esses espaços e promover ações de incentivo não apenas ao hábito, mas especialmente ao gosto pela leitura, prática indispensável nos dias de hoje.  Só assim, com uma completa transformação de postura e atitude, nosso país terá um povo mais culto e, sobretudo, mais crítico e desenvolvido.

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[1] Cláudia Santa Rosa é Doutora e Mestre em Educação, Especialista em Psicopedagogia e Pedagoga. Desde 2006, através do IDE, uma ONG que ajudou a fundar, coordena as ações ligadas ao Programa Prazer em Ler (programa nacional do Instituto C&A), implementadas no Rio Grande do Norte.

Um comentário:

  1. Que belo texto!!! Parabéns! Que tal enviar ao Diário de Natal? Eles publicarão, com certeza.

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