terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Desabafo de uma Professora

Após leitura de matéria publicada neste blog sobre oferta de Pós-Graduação em Língua Espanhola aos professores da rede pública estadual (Clique aqui para ler), a Professora Regiane Cabral envia-nos o seguinte comentário:


Cara amiga,

Aproveito o espaço para fazer meu desabafo a respeito deste tema. No ano de 2007- 14/07 a 27/10- com carga horária de 120hs, a Secretaria de Educação do Estado ofereceu um curso de capacitação docente em língua espanhola para professores de língua inglesa e portuguesa tendo como instituição escolhida a UNP, de cujo grupo decente fiz parte. Após este curso, os professores foram destinados a assumirem, além das suas disciplinas, as de língua espanhola no ensino médio. Esta especialização que está sendo oferecida atente, portanto, a maioria dos professores que não tem formação em Letras com habilitação em língua espanhola, ou seja, aos professores que fizeram parte da 1ª etapa da capacitação.

A primeira vista parece uma ação positiva; no entanto, a Secretaria de Educação ignora a Lei nº 11.161, que dispõe sobre a obrigatoriedade da oferta do Espanhol pelas escolas de Ensino Médio. A Lei prevê um Plano de implantação da língua espanhola no ensino médio, nela rege que “as escolas precisam dispor de professores habilitados e qualificados, bem como contar com recursos materiais adequados que atendam aos objetivos propostos. (...) Entre as ações previstas, destacam-se: articular a ampliação da oferta de cursos e matrículas no ensino superior para a formação de professores de Língua Espanhola; fortalecer o programa de formação inicial e continuada (...)” (http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ai_ata171105.pdf). Ao meu entender, essa implantação exige formação superior (professores habilitados) e, no caso das escolas públicas, a qualificação pode ser verificada através de concurso público.

O que impede a Secretaria do Estado abrir concurso público para absorver tantos formandos devidamente graduados na área de língua espanhola? A própria UERN já formou muitos alunos com carga horária superior a 3000hs. Ouvi outra vez a seguinte justificativa: "A UERN ainda não formou alunos habilitados em língua espanhola suficientes para atender toda a necessidade do Estado do Rio Grande do Norte". Acaso a Secretaria pensa que se abrir concurso haverá somente candidatos deste Estado?

Francamente, não louvo esta postura do Estado; acho uma falta de respeito com os alunos da rede estadual, com os graduados nesta área e, principalmente, um descaso à Lei federal. Se existe um curso superior que forma alunos para serem professores de língua espanhola, porque “obrigar” professores com formação em língua portuguesa ou inglesa- já concursados- a assumirem esta disciplina? Não questiono aqui, em hipótese alguma, a competência dos professores que já ministram aulas de língua espanhola mesmo sem formação superior especializada, pois sei que se esforçam para fazer possível um ensino de qualidade mesmo sem a graduação nesta área; tantos, inclusive, que tive o prazer de conhecer durante o 1º curso de capacitação. Acho somente que devem permanecer em suas especificidades e não serem feitos de fantoches do Estado para mostrar números ao invés de qualidade.

Minha voz aqui se faz a voz de tantos alunos que já formei e que esperam apenas uma oportunidade para fazer valer o seu diploma de Letras com habilitação em língua espanhol. Acredito que a Secretaria de Educação deve uma resposta a todos eles.

Regiane S. Cabral de Paiva
(Professora de língua espanhola da UERN) 




NOTA DO BLOG: Querida Regiane, a princípio quero registrar a alegria de tê-la como leitora deste espaço. Agradeço sua participação que, sem dúvida, só vem a enriquecer este blog. Com relação ao assunto em debate, certamente, faz-se necessário questionar essa inconcebível postura da Secretaria de Educação, embora, tais atitudes não me surpreendam, uma vez que é de praxe de nossos gestores educacionais visarem a quantidade em detrimento da qualidade.

Um comentário:

  1. Minha querida Regiane, infelizmente essa é a politica educativa em nosso Estado. A grande maioria também nao se importa com a qualidade de ensino que é dada na escola publica e nao é de graça o descaso. A Uern forma dezenas de profissionais em lingua espanhola, mas infelizmente, o nossos governos estaduais e municipais nao estao nem aí. Afinal, pra que dá aula de espanhol para o povão!? Deixa a aprendizagem da língua espanhola para os que podem pagar escola privada. Qualificação para pobres que nada! Educação para pobre!? O fim dos pobres nessa cidade, nesse Estado e nesse país, já esta escrito e todos sabem... são as prisoes da miseria.

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