segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Redoma

Sirlia Lyra*




Como poderia viver sem  arranhões, sem sentir o frio que dá na barriga quando bate o medo, sem sentir a areia fugindo por entre os dedos? A redoma quebrou paulatinamente e cada caco de vidro parecia uma potente furadeira que barulhenta e feroz, dilacerava as entranhas. Quisera que o cardiologista pudesse cura-la, pudesse minimizar tamanha dor.Seria possível reconhece-la? seria possível senti-la mais intensamente? seria possível não senti-la? Não senti-la seria renegar a própria vida. 

Ah! a vida, tão bela e graciosa, vida, tão cheia de vida  que nem cabia no peito, nem pensava que um dia o mundo iria desabar inteiro na sua cabeça. Quão ingênua fora ao acreditar que a redoma a protegeria das conseqüências do amor. Perguntava-se  insistentemente sobre as rachaduras que geraram a quebra, como resposta veio apenas o silêncio do indizível. 


* Sirlia Lyra é educadora e, nas horas vagas, mantém o blog Simplesmente Sirlia 

Um comentário:

  1. A "Redoma" é representa um rompimento quase umbilical.

    Grata pela publicação,
    Sirlia Lira

    sirlia.blogspot.com

    ResponderExcluir