domingo, 25 de março de 2012

A catástrofe dos cursos de Letras

Marcos Bagno
Revista Caros Amigos – Nov/ 2008


A formação dos professores de português, hoje, no Brasil, é uma catástrofe. Nós, os responsáveis pelos cursos de Letras, não enxergamos a bomba-relógio que temos nas mãos. As estatísticas não mentem: a retumbante maioria dos estudantes de Letras vêm de camadas sociais pobres ou mesmo miseráveis, filhos de pais analfabetos ou que têm escolarização inferior a quatro anos. Isso significa muita coisa. Significa que esses estudantes têm um histórico de letramento muito reduzido: no ambiente familiar, não convivem com a cultura letrada, não têm acesso a livros, revistas, enciclopédias etc. Significa que não são falantes das normas urbanas de prestígio (as mesmas que supostamente terão de ensinar a seus futuros alunos) e têm domínio escasso da leitura e da escrita. Só na faculdade é que a maioria deles vai ler, pela primeira vez na vida, um romance inteiro ou um texto teórico. Vêm, quase todos, do ensino público, essa tragédia ecológica brasileira muito pior que as queimadas na Amazônia. Nós, porém, fingimos que eles são ótimos leitores e redatores, e despejamos sobre eles, logo no primeiro semestre, teorias sofisticadas, que exigem alto poder de abstração e familiaridade com a reflexão filosófica, e textos de literatura clássica, escritos numa língua que para eles é quase estrangeira. E assim vamos nos iludindo e iludindo os estudantes.

O resultado é que os estudantes de Letras saem diplomados sem saber lingüística, sem saber teoria e crítica literária e sem saber escrever um texto acadêmico com pé e cabeça. Todos os dias, recebo mensagens de formandos que me pedem orientação para seus trabalhos finais. Alguns até me enviam seus projetos. São textos repletos de erros primários de ortografia, pontuação, sintaxe, vocabulário, com frases truncadas e sem sentido. Assim eles chegam ao final do curso, e suas monografias, mal escritas, sem nenhum rigor teórico ou metodológico, são aprovadas alegre e irresponsavelmente por seus supostos orientadores.

O problema, é claro, não está no fato (que merece comemoração) de acolhermos na universidade alunos vindos das camadas mais desfavorecidas da população. O problema é não oferecermos a eles condições de, primeiro, se familiarizar com o mundo acadêmico, que lhes é totalmente estranho, por meio de cursos intensivos (e exclusivos) de leitura e produção de textos, de muita leitura e muita produção de textos, para só depois desses (no mínimo) dois anos de preparação eles poderem começar a adentrar o terreno das teorias, das reflexões filosóficas, da alta literatura. Se não fizermos isso urgentemente (anteontem!), as salas de aula do ensino básico estarão ocupadas por professores que, mal sabendo ler e escrever adequadamente, não poderão desempenhar sua principal tarefa: ensinar a ler e a escrever adequadamente! Não sei, aliás, por que escrevi “estarão ocupadas”: elas já estão ocupadas, neste momento, por essas pessoas, de quem se cobra tanto e a quem não se oferece uma formação docente que também seja, minimamente, decente.


2 comentários:

  1. Este comentário de Marcos Bagno constitui-se numa verdadeira aberração.....que dados e estudos ele tem para comprovar afirmções levianas do tipo" O resultado é que os estudantes de Letras saem diplomados sem saber lingüística, sem saber teoria e crítica literária e sem saber escrever um texto acadêmico com pé e cabeça." ...pessoas como ele e tantos outros "Paulos freires" da vida envergonham nossa educação...pois tentam esconder o reais motivos do fracasso escolar punindo os professores, que são na verdade são as principais vítimas de nossas escolas sucateadas........sou professor e não me rendo a comentários tiranos e sensassionalistas que tentam denegrir o professor fazendo dessa classe verdadeiros ratos de laboratórios....... é preciso entender que tais teóricos nada mais são do que instrumentos de um sistema educacional falido que tenta se ausentar de tal responsabilidade condenando os professores.

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  2. a libertação de nossos professores das senzalas de aulas só ocorrerá a partir da tomada de consciencia de nosso poder transformador e da recusa a submição a tais teorias que tentam promover a culpabilidade do professor pelo fracasso escolar. Escondendo assim, a real situação em que um sistema educacional falido e sucateado tenta se manter vivo e operante através de teóricos como marcos Bagno e tantos outros que tentam a todo custo entorpecer as mentes de nossos educadores através de textos como esses, repletos de sensacionalismo e hipocresia........abaixo toda ideologia opressora e viva o professor.

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