sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

PROFESSORAS DESENCANTADAS!




Dois encontros casuais - em um mesmo dia, me inspiraram a escrever o que segue. Atrevo-me a afirmar que não foi simples coincidência. Encontrava-me em um "shopping center" de Natal e, ao me sentar em um banco, ouvi uma conversa que muito me interessou. Resolvi tomar parte no diálogo. Qual não foi a surpresa: eram professoras aposentadas - assim como eu. Reafirmo que não me sinto 'aposentada da vida' ...Luto, ainda , para que mude o sofrível quadro da educação básica pública que aí está!

Uma das professoras foi aluna da primeira turma do Instituto Superior Pres. Kennedy - do qual tive a satisfação de ser uma das suas diretoras. A outra me disse que enquanto estava eu trabalhando na Secretaria de Educação RN, assinara algum ato que dizia respeito a sua vida funcional. Coincidência? . Bem, o que mais me chamou a atenção foi o desencanto que ambas demonstraram ao longo da conversa. O quão difícil é ser professora hoje- afirmavam. E as referências diziam respeito à desvalorização, ao desprestígio de tal profissional - a partir do salário- até a difícil relação estabelecida entre as professoras e os alunos e suas famílias. Destacou-se o valor maior que deveria estar presente em toda a vida e, sobretudo, na educação: o respeito. E como faz falta!

Um tanto triste e pensativa saí deste encontro ocasional e proveitoso mesmo que o assunto seja bem frustrante, porém muito real! Adiante, no mesmo dia, e no mesmo local, deparo-me com uma ex-aluna e professora que abordava, também, as frustrações e o desencanto com a profissão. Curioso é que no primeiro momento não me lembrava do seu nome. Após os primeiros diálogos, ela escreveu o seu e-mail quando reconheci uma letra muito especial - bem desenhada e bonita mesmo. Quando perguntei se diante daquela letra tinha outras habilidades ela me disse que pinta, borda, faz muitos outros trabalhos de natureza artesanal e deu a entender que, por ai, encontra compensações diante da condição de docente aposentada e desencantada!

O preocupante quadroque ai está suscita questões: quem quer ser professora nos dias de hoje? Que atrativos existem para se escolher tal profissão? Se a educação escolar básica está na "berlinda", não dá para esquecer a situação do profissional da educação. Vamos continuar "dormindo" diante de uma problemática grave quanto esta? De que vale ser a "6ª economia do Planeta Terra" se dispomos de um precário sistema educacional? Isso não vai se sustentar. Importa atentar para a precária qualidade de vida de uma significativa parcela dos brasileiros. A quem compete alterar tal quadro? Sem educação não há saída. Para tal, é indispensável termos professoras comprometidas, competentes, éticas e felizes . E, por enquanto, não é isso que temos!

O desencanto dos profissionais da educação tem um significado. O Brasil dispõe de uma precária educação- sobretudo a básica - compatível ao valor - em muitos sentidos - que é atribuído aos profissionais responsáveis pela missão de educar! O país não tem o direito de cobrar uma melhor educação enquanto tratar o principal profissional de um sistema educacional, tal como vem fazendo ao longo da nossa história . Reafirmo que está tudo muito compatível e coerente... Os depoimentos espontâneos das professoras aposentadas - e desencantadas-são uma evidência- mais do que evidente- da precária realidade do nosso sistema educacional. Imagine-se o desempenho -no dia a dia- de um profissional desencantado! 

É preciso mudar e isso não se dá tão depressa. A caminhada é longa: torna-se indispensável dar os primeiros passos antes que seja tarde demais. O desejo é , no futuro, encontrarmos professoras aposentadas e encantadas!

NB - Como a imensa maioria dos docentes é mulher, utilizo-me da palavra PROFESSORA!





* Eleika Bezerra Guerreiro, Professora, escreve a convite do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), que colabora às sextas feiras no Diário de Natal - Artigo Publicado na edição de hoje, 20/01/2012.

Um comentário:

  1. Enquanto a educação não for tratada como política de Estado, essa situação não mudará. Não adianta modificar ou unificar currículo, prover as escolas de laboratórios ou entregar laptop aos alunos. Se não investir no ator principal, o professor, a educação brasileira continuará em decadência.

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