Academia Estudantil de Letras Poeta Antônio Francisco - primeira e única do Nordeste |
Em meu último artigo, intitulado "Povo leitor, país desenvolvido", abordei a questão da falta de compromisso de nossos gestores com a promoção de acesso à leitura, fato que se evidencia, sobretudo, na escassês de bibliotecas públicas. As poucas existentes se encontram, em sua maioria, com infraestrutura precária e entregue nas mãos de profissionais despreparados, o que compromete de forma significativa a formação de leitores, prejudicando, especialmente aqueles que vêm das classes menos favorecidas, onde o acesso ao livro muitas vezes só se realiza em bibliotecas públicas ou na escola. Para mudar esse quadro, é preciso investir na construção de novas bibliotecas e na aperfeiçoamento das já existentes, através da ampliação de seus acervos e seleção de profissionais comprometidos e capacitados para desenvolver ações que fortaleçam ou influenciem o gosto pela leitura. Se o profissional não apresenta essas caracterísiticas, jamais deverá assumir o trabalho em um espaço tão importante como é a biblioteca.
Mas no cotidiano escolar, os critérios acima elencados não tem qualquer relevância e isso posso afirmar de cátedra, haja vista que já tive a oportunidade de ser professora da Sala de Leitura da Escola Municipal Professora Lourdes Mota, em Apodi. Durante o período em que fiquei lotada nesse espaço (2008 e 2009), elaborei, a cada ano letivo, um plano de trabalho (com objetivos, justificativa, metodologia, cronograma, avaliação, etc.) a ser executado naquela biblioteca, durante o ano, coisa que honestamente nunca vi outro professor de uma sala de leitura fazer, pelo menos não nas instituições em que trabalhei. O fiz porque acredito que não é apenas o professor de sala de aula, que tem o dever de planejar suas ações. Defendo que todos os funcionários de uma escola (diretor, supervisor, coordenador, etc.) devem, a cada ano, fazer um planejamento do trabalho que pretendem desenvolver, no exercício de sua função, durante aquele ano letivo. Afinal de contas o planejamento é imprescindível ao educador a medida que esse se preocupa em ter qualidade no que faz. Como qualidade sempre foi o objetivo dominante em tudo que me proponho a fazer, planejar foi minha primeira atitude.
Em meu plano, busquei propor ações que privilegiassem um melhor uso daquele espaço. Dentre as atividades propostas e realizadas, se encontrava uma que já algum tempo pretendia desenvolver, mas não tinha condições devido a excessiva carga horária em sala de aula. Tratava-se da criação de uma Academia Estudantil de Letras (AEL), um grupo de jovens estudantes que semanalmente se reúne para realização de rodas de leituras, contação de histórias e estudos literários. A AEL segue, com as devidas adaptações, o modelo de uma autêntica Academia de Letras, ou seja, os estudantes escolhem patronos e ocupam cadeiras literárias em ato solene de posse. Mas para fazer parte da AEL Poeta Antônio Francisco (nome escolhido pelos próprios acadêmicos) não há qualquer exigência. Aliás, apenas uma: ser aluno da Escola Lourdes Mota.
O grupo começou pequeno, cerca de meia dúzia de alunos que convidei, com a ajuda de alguns colegas professores. Aos poucos, de forma espontânea, foram chegando outros estudantes. Na solenidade de fundação já éramos 17. A partir daí, o grupo só cresceu. Hoje, temos aproximadamente 40 acadêmicos, entre titulares, correspondentes e simpatizantes, que são aqueles que ainda não realizaram juramento de posse, mas já participam das atividades acadêmicas.
Apesar de não contarmos com recursos financeiros, com a ajuda de alguns amigos parceiros, além das rodas de leitura e contação de histórias, realizamos também seminários sobre os patronos, encontros com escritores, oficinas de poesia e de teatro e passeios à bibliotecas, museus e teatros; fizemos apresentações culturais em eventos dentro e fora da escola e, ainda, participamos da Feira do Livro em Mossoró, com direito a exposição de textos literários produzidos pelos próprios acadêmicos.
A realização de tantas atividades acabou levando a AEL a ganhar destaque na imprensa de todo estado: blogs, jornais, revistas, rádios e até um canal de TV a cabo. Isso sem falar nas reportagens em veículos de abrangência nacional, como nas revistas "Língua Portuguesa", "Agitação" e no site da "UOL". Devido a essa notoriedade, fui conivdada por algumas instituições para proferir palestras em eventos; recebi de entidades locais comendas de reconhecimento pelos serviços culturais e educativos realizados, através da Academia Estudantil. E, com muita alegria, em 2009, recebi a indicação ao Prêmio Darcy Ribeiro de Educação e Cultura, concedido anualmente como reconhecimento aos trabalhos ou ações que se destacaram na defesa e na promoção da educação, especialmente as iniciativas relacionadas à educação popular. Inegavelmente, isso tudo me serviu de combustível para continuar esse trabalho, buscando, a cada dia, ampliar e melhorar ainda mais as nossas ações.
A realização de tantas atividades acabou levando a AEL a ganhar destaque na imprensa de todo estado: blogs, jornais, revistas, rádios e até um canal de TV a cabo. Isso sem falar nas reportagens em veículos de abrangência nacional, como nas revistas "Língua Portuguesa", "Agitação" e no site da "UOL". Devido a essa notoriedade, fui conivdada por algumas instituições para proferir palestras em eventos; recebi de entidades locais comendas de reconhecimento pelos serviços culturais e educativos realizados, através da Academia Estudantil. E, com muita alegria, em 2009, recebi a indicação ao Prêmio Darcy Ribeiro de Educação e Cultura, concedido anualmente como reconhecimento aos trabalhos ou ações que se destacaram na defesa e na promoção da educação, especialmente as iniciativas relacionadas à educação popular. Inegavelmente, isso tudo me serviu de combustível para continuar esse trabalho, buscando, a cada dia, ampliar e melhorar ainda mais as nossas ações.
Se para outras instituições, nosso trabalho era considerado importante, para os gestores municipais de educação de Apodi, ele nada significou. Pelo menos é o que parece, haja vista que mesmo diante de tudo que conseguimos realizar, fui afastada da biblioteca da escola abruptamente, sem qualquer preocupação com a interrupção do trabalho até então desenvolvido. A alegação era de que lugar de professor de Língua Portuguesa é na sala de aula e como tal deveria dar minhas aulas. Nunca questionei. Aliás, nunca pedi para sair de sala de aula. E quando fora dela, nunca deixei de ser uma legítima professora.
Eles parecem esquecer de que durante todo o período em que estive à frente da biblioteca, continuei atuando como uma verdadeira professora, quer nas atividades da AEL, quer no projeto Prazer em Saber, em que ministrava aulas de reforço aplicadas em forma de oficinas, quer no atendimento aos alunos que visitavam aquele espaço, orientando-os em suas pesquisas, estudos ou simples leituras.
Eles parecem esquecer de que durante todo o período em que estive à frente da biblioteca, continuei atuando como uma verdadeira professora, quer nas atividades da AEL, quer no projeto Prazer em Saber, em que ministrava aulas de reforço aplicadas em forma de oficinas, quer no atendimento aos alunos que visitavam aquele espaço, orientando-os em suas pesquisas, estudos ou simples leituras.
Quero ressaltar, entretanto, que em nenhum momento contestei o fato de voltar a atuar em sala de aula, como professora de Língua Portuguesa, pois amo, repito, amo lecionar. O que esperava, pelo menos, é que me fossem concedidas algumas horas aulas para que eu pudesse continuar me dedicando a Academia Estudantil. Mas não. Isso não pode. A carga horária deve ser cumprida completamente em sala de aula. Até aí tudo bem. Há uma certa lógica nesse pensamento. Ou não?
Contudo, me nego a aceitar que seja correto interromper um trabalho que vinha dando tão certo, que vinha gerando frutos, como o visível hábito leitor adquirido pelos alunos da academia ou a possível futura publicação de um livro composto por obras já escritas por alguns deles. Mas nada disso importava! Voltei para sala de aula.
Havia em mim ainda uma esperança. A pessoa a me substituir na biblioteca poderia continuar o trabalho junto à AEL. Não me negaria de forma nenhuma a ajudar. Mas se achasse que era muita responsabilidade (E é mesmo!), se ela preferisse, poderia pelo menos me auxiliar nas reuniões e demais atividades acadêmicas. O sonho não acabou - dizia eu para mim mesma!
Início do ano letivo de 2010. Na primeira oportunidade, corri para conhecer o novo professor responsável pela biblioteca da escola. Mas eis que sou surpreendida ao constatar que a pessoa escalada para a função não possuia licenciatura, não era sequer graduada e, principalmente, não possuía qualquer afinidade com a leitura, características que, acredito, são indispensáveis para exercer essa função. Provavelmente por não ter as habilidades didático-pedagógicas necessárias ou proximidade com a literatura, a colega se mostrou indiferente a ideia de dar prosseguimento a Academia Estudantil de Letras. Não a culpo por isso. Ela não é qualificada para o cargo e àqueles que lá a colocaram sabiam bem disso. Se o fizeram, foi tão somente por acharem insignificante o papel de uma biblioteca no âmbito escolar e não encontarem mérito no trabalho ali desenvolvido nos dois últimos anos.
Apesar disso, resolvi seguir em frente com a academia. Com uma carga horária de 50 aulas semanais, distribuídas entres os turnos matutino e vespertino, só me restaram as noites para planejar minhas aulas, preparar diários, elaborar e corrigir trabalhos escolares, organizar e realizar as atividades da academia. E isso, caros leitores, não foi fácil. Principalmente por ter que fazer tudo isso sozinha, sem a ajuda da direção, coordenação ou de qualquer outro colega da escola. Nunca ninguém me procurou para oferecer qualquer ajuda, nem sequer para saber como estava a academia. Era como se ela jamais tivesse existido.
Mesmo sozinha e com imensuráveis dificuldades, continuei coordenando o grupo de acadêmicos. É claro que, diante dessa realidade, a qualidade do nosso trabalhou diminuiu significativamente. E muitas das atividades planejadas para 2010 ficaram impossíveis de serem executadas.
Concluí o ano, extremamente cansada e com grande desânimo. Diagnóstico? Alto nível de estresse, adquirido devido à excessiva carga de trabalho.
2011. Um novo ano se inicia. Mais uma vez ninguém desmonstra qualquer preocupação ou interesse pela Academia Estudantil de Letras, a primeira e única do Nordeste. Mais uma vez estou aqui, sozinha, tentando remar contra a maré da falta de apoio e de recursos. Até onde iremos? Não sei. Mas temo que a AEL esteja com os seus dias contados. Sem recursos, sem apoio e sem tempo, as atividades tendem a ficar menos frequentes e, principalmente, menos atraentes. E isso é muito grave para um projeto que se propõe a criar um ambiente saudável e prazeroso para a prática da leitura.
A iminência do fim da AEL dói intensamente em mim, mas dói mais ainda nos jovens acadêmicos. Afinal ninguém mais do que eles sabem o quanto a AEL significa em suas vidas. Ninguém melhor do que um acadêmico para sentir os benefícios que um projeto dessa natureza provocam na sua vida escolar, familiar e, sobretudo, na sua vida em sociedade.
Enquanto isso, continuamos a assistir a divulgação dos baixos indicadores educacionais do nosso município. Nas escolas, a cada início de ano letivo, os gestores fazem sempre questão de atribuir ao professor a responsabilidade por esse fracasso. Mas esquecem de aplaudir aqueles que protagonizam iniciativas que contribuem para que esses resultados não sejam ainda piores.
Convém, portanto, refletirmos sobre as reais razões para tanta evasão e repetência em nossas escolas. Pensemos maduramente sobre o que leva nossos jovens a concluírem o ensino básico com um nível tão baixo de aprendizagem. É sempre muito fácil culpar o professor pelos fracassos educacionais. Mas será que temos cuidado bem da infraestrutura de nossos estabelecimentos de ensino? Temos estimulado e apoiado às boas práticas pedagógicas? Temos valorizamos os bons professores? Enfim, temos criado políticas públicas que promovam o ensino de qualidade?
Somente quando formos capazes de responder com maturidade a essas questões e nos debruçarmos sobre novas práticas administrativas e pedagógicas é que poderemos exigir e esperar melhores resultados educacionais em nosso município, em nosso estado e em nosso país.
Contudo, me nego a aceitar que seja correto interromper um trabalho que vinha dando tão certo, que vinha gerando frutos, como o visível hábito leitor adquirido pelos alunos da academia ou a possível futura publicação de um livro composto por obras já escritas por alguns deles. Mas nada disso importava! Voltei para sala de aula.
Havia em mim ainda uma esperança. A pessoa a me substituir na biblioteca poderia continuar o trabalho junto à AEL. Não me negaria de forma nenhuma a ajudar. Mas se achasse que era muita responsabilidade (E é mesmo!), se ela preferisse, poderia pelo menos me auxiliar nas reuniões e demais atividades acadêmicas. O sonho não acabou - dizia eu para mim mesma!
Início do ano letivo de 2010. Na primeira oportunidade, corri para conhecer o novo professor responsável pela biblioteca da escola. Mas eis que sou surpreendida ao constatar que a pessoa escalada para a função não possuia licenciatura, não era sequer graduada e, principalmente, não possuía qualquer afinidade com a leitura, características que, acredito, são indispensáveis para exercer essa função. Provavelmente por não ter as habilidades didático-pedagógicas necessárias ou proximidade com a literatura, a colega se mostrou indiferente a ideia de dar prosseguimento a Academia Estudantil de Letras. Não a culpo por isso. Ela não é qualificada para o cargo e àqueles que lá a colocaram sabiam bem disso. Se o fizeram, foi tão somente por acharem insignificante o papel de uma biblioteca no âmbito escolar e não encontarem mérito no trabalho ali desenvolvido nos dois últimos anos.
Apesar disso, resolvi seguir em frente com a academia. Com uma carga horária de 50 aulas semanais, distribuídas entres os turnos matutino e vespertino, só me restaram as noites para planejar minhas aulas, preparar diários, elaborar e corrigir trabalhos escolares, organizar e realizar as atividades da academia. E isso, caros leitores, não foi fácil. Principalmente por ter que fazer tudo isso sozinha, sem a ajuda da direção, coordenação ou de qualquer outro colega da escola. Nunca ninguém me procurou para oferecer qualquer ajuda, nem sequer para saber como estava a academia. Era como se ela jamais tivesse existido.
Mesmo sozinha e com imensuráveis dificuldades, continuei coordenando o grupo de acadêmicos. É claro que, diante dessa realidade, a qualidade do nosso trabalhou diminuiu significativamente. E muitas das atividades planejadas para 2010 ficaram impossíveis de serem executadas.
Concluí o ano, extremamente cansada e com grande desânimo. Diagnóstico? Alto nível de estresse, adquirido devido à excessiva carga de trabalho.
2011. Um novo ano se inicia. Mais uma vez ninguém desmonstra qualquer preocupação ou interesse pela Academia Estudantil de Letras, a primeira e única do Nordeste. Mais uma vez estou aqui, sozinha, tentando remar contra a maré da falta de apoio e de recursos. Até onde iremos? Não sei. Mas temo que a AEL esteja com os seus dias contados. Sem recursos, sem apoio e sem tempo, as atividades tendem a ficar menos frequentes e, principalmente, menos atraentes. E isso é muito grave para um projeto que se propõe a criar um ambiente saudável e prazeroso para a prática da leitura.
A iminência do fim da AEL dói intensamente em mim, mas dói mais ainda nos jovens acadêmicos. Afinal ninguém mais do que eles sabem o quanto a AEL significa em suas vidas. Ninguém melhor do que um acadêmico para sentir os benefícios que um projeto dessa natureza provocam na sua vida escolar, familiar e, sobretudo, na sua vida em sociedade.
Enquanto isso, continuamos a assistir a divulgação dos baixos indicadores educacionais do nosso município. Nas escolas, a cada início de ano letivo, os gestores fazem sempre questão de atribuir ao professor a responsabilidade por esse fracasso. Mas esquecem de aplaudir aqueles que protagonizam iniciativas que contribuem para que esses resultados não sejam ainda piores.
Convém, portanto, refletirmos sobre as reais razões para tanta evasão e repetência em nossas escolas. Pensemos maduramente sobre o que leva nossos jovens a concluírem o ensino básico com um nível tão baixo de aprendizagem. É sempre muito fácil culpar o professor pelos fracassos educacionais. Mas será que temos cuidado bem da infraestrutura de nossos estabelecimentos de ensino? Temos estimulado e apoiado às boas práticas pedagógicas? Temos valorizamos os bons professores? Enfim, temos criado políticas públicas que promovam o ensino de qualidade?
Somente quando formos capazes de responder com maturidade a essas questões e nos debruçarmos sobre novas práticas administrativas e pedagógicas é que poderemos exigir e esperar melhores resultados educacionais em nosso município, em nosso estado e em nosso país.