Uma noite perdida com o final de 'Insensato Coração'
Último capítulo da novela
Por Regis Tadeu | Redação Yahoo! Brasil
Já tinha acontecido uma vez... No começo do ano, o Yahoo!, fazendo uso de ameaças e chantagens de todos os tipos, praticamente me obrigou a fazer impensável: assistir pela primeira vez a um episódio do Big Brother Brasil. Evidentemente, pensei que o Yahoo! jamais me pediria novamente para fazer algo semelhante. Ledo engano.
Empregando novas ameaças, das mais horrendas – como me obrigar a entrevistar o Justin Bieber em um parque de diversões, andar de “pedalinho” por todo o rio Tietê ao lado do João Kléber -, os insensíveis jornalistas deste grande portal me deram uma ordem: assistir e comentar o último capítulo da novela Insensato Coração, que foi ao ar na última sexta-feira.
Primeiro, é preciso dizer que sou partidário de uma tese que não dá margem a erro: se você quer saber o que se passa em uma novela dos dias atuais, assista apenas ao primeiro e ao último capítulo. É batata. Tudo o que você tem que saber está condensado nestes dois momentos da trama. Desculpe, mas sou um velhinho que viveu em uma época em que novela era sinônimo de bons enredos e atuações impecáveis, tudo condizente com a história que se pretendia contar. Quem teve a oportunidade de assistir a novelas como Saramandaia, Roque Santeiro, Irmãos Coragem, Cavalo de Aço, O Bem Amado, Guerra dos Sexos e tantas outras pérolas de nossa teledramaturgia simplesmente chora lágrimas de sangue em esguicho ao ver esta enxurrada de novelas patéticas que infestam a TV brasileira.
Voltando ao assunto deste texto, não havia alternativa: tive que assistir ao último capítulo deste troço batizado como Insensato Coração sem ter visto um segundo sequer de qualquer um dos capítulos anteriores – o que, no fundo, faz com que eu dê graças a Deus por não ter sido exposto durante meses a este troço canhestro...
Bem, o que eu vi foi o seguinte: o capítulo começa com um tal de “Léo”, que deve ser o vilão, ao lado de uma menina amarrada, chamada “Marina”. O poderia sugerir uma sessão de sadomasoquismo - o que até seria interessante de se ver -, é na verdade apenas um seqüestro, no qual a moça, que é péssima atriz, será trocada por uma mala de dinheiro. A julgar pelo desempenho dela como atriz, qualquer pacote com umas poucas notas de R$ 5 dentro já estava de bom tamanho. Ela é obrigada a ligar para avó que, segundo a seqüestrada, não atende porque é uma “mulher muito requisitada” - ou a avó dela é uma cafetina de luxo ou é a Presidente da República.
Aí surge um cara que é o irmão do “Léo”, representado por Eriberto Leão, um ator que tem a expressividade de um Moai - aquelas estátuas da Ilha de Páscoa – que dá uma lição de investigação a um... delegado de Polícia! Pô, botar em cena uma autoridade que confessa que não investigou um dos itens de compra de uma fatura de cartão de crédito do acusado de assassinato, que é o tal de “Léo”, é provocação com a Polícia.
A tal da avó – interpretada pela grande atriz Nathália Timberg – parece uma versão “dona de casa” da “M”, a chefe do James Bond, mas com a fisionomia de quem adoraria estar no palco de um teatro fazendo uma peça de Shakespeare, e não passando vergonha na TV ao participar de diálogos ridículos. A cena em que ela atende ao telefonema da neta no viva-voz do celular e continua mantendo o aparelho colado na orelha merece entrar para os anais das galhofas involuntárias da TV brasileira.
Mas isto não é nada comparado ao personagem do Lázaro Ramos confessando que uma quimioterapia reduziu a sua “libido de rei dos garanhões”. Foi aí que saquei que uma novela que traz o “primo do Robinho” como galã só pode ser um programa humorístico. E dos ruins, diga-se de passagem. Para piorar, o cara recebe convite de uma amiga – uma atriz linda e gostosíssima (é necessário frisar) para assistir a um filme em casa e vai para a cama com ela. Depois, vai fazer um “cooperzinho” matinal e sai vibrando ao ver que seu “poder de sedução” e “virilidade” estão intactos durante uma paquera com uma figurante gostosa e nariguda. Uma cena escrita provavelmente por alguém com idade mental em torno dos doze anos...
Na sequência surge a Deborah Secco fazendo aquilo que ela sabe fazer com mais naturalidade: papel de loura burra, gostosa e com uns 46 parafusos soltos na cabeça. Ao lado de um assistente bastante afrescalhado, ela surge tirando umas fotos para a capa de uma revista com um biquíni de couro que deixa quase totalmente à mostra o seu corpo estonteante e escultural. Nesta hora, milhares de garotos adolescentes sentiram vontade de ir para o banheiro e... Ah, você sabe, né?...
A cena seguinte é quase antológica: um tal de “Horácio”, interpretado pelo grande ator Herson Capri, recebe na prisão a visita do filho, interpretado por um garoto tão expressivo quanto uma lata de atum enferrujada, chamado Jonatas Faro. É sério: poucas vezes vi alguém interpretar de modo tão canhestro quanto este garoto. A falta de talento do cara é tamanha que se ele estivesse representando dentro de uma cadeia de verdade, não sairia de lá antes de cumprir uma pena de 29 anos de reclusão por excesso de canastrice. Na sequência, ele vai para um píer, dá um beijo em uma menina linda e cai na água com ela para fazer... esqui aquático! Ou a cena tem algum significado oculto ou o diretor da novela andou bebendo café coado em meias usadas.
Depois, sou obrigado a ver a deusa Camila Pitanga em um diálogo constrangedor com o Lázaro Ramos, no qual este solta umas pataquadas sobre o sentido da vida e da família, uma “filosofia” que faria qualquer caminhoneiro parecer o filósofo grego Aristóteles. Segue-se então a cena de um casamento gay em que o pai de um dos noivos aparece na cerimônia – realizada sem que os noivos se beijem no final - e se diz arrependido por não saber da existência do filho e por passar a vida inteira falando mal dos homossexuais. Ambos se abraçam de uma maneira tão meiga quanto o encontro de dois lambaris caolhos, sendo que o filho começa a chorar sem ter uma única lágrima escorrendo dos olhos. Alô, produção: vamos caprichar na pomada e nos cristais que fazem chorar embaixo dos olhos desta turma aí, por favor!
Quando os irmãos “Léo” e o “cara de Moai” se encontram para fazer a troca da moça por uma mala vazia em uma Praça Mauá inacreditavelmente vazia, acontece uma luta entre os dois que parece ter sido coreografada por um sócio de academia de luta-livre mexicana. Um negócio não menos que constrangedor... O tal de Léo vai então para a delegacia e ao dizer que pretende fazer uma queixa de agressão contra o irmão, é confrontado com as já tradicionais “fotos reveladoras” em poder do ‘delegado mané’, que fazem parte de um dossiê elaborado por uma tal de “Norma”. Norma? De onde saiu esta mulher? O vilão então diz que foi o pai que matou a mulher. Pai? Que pai?
Corte para a gostosa da Débora Secco dando uma “entrevista coletiva” de mini-saia e sentada em uma mesa de buffet dizendo que não sabia da roubalheira do marido - o tal de “Horácio”, pai do “boneco de cera de Olinda”, que está preso -, não sem antes abraçar um sujeito retardado, chamado “Douglas”, e ser convidada para ingressar em um partido político por um picareta asqueroso, cuja barriga parecia conter um tamanduá vivo.
Voltando a garota que foi seqüestrada, a "Marina". Ela está com a mãe do vilão e do “cara de Moai” quand surpreende a tal coroa colocando uma pulseira da tal “Norma”, dentro de uma caixa. Daí para a conclusão de que a mãe do vilão e do mocinho da história foi a assassina da tal de Norma foi um pulo. Não sem antes presenciarmos um choro da coroa que mais parecia um festival de caretas provocado por dores no dente do siso.
Logo na sequência, vemos o depoimento da assassina, observada pelo Antonio Fagundes, que venho a descobrir que é o marido dela, “Raul”, e pai dos dois irmãos. E tome as manjadas cenas em flashback, mostrando como a mãe maluca matou a tal de “Norma” – interpretada pela Glória Pires, a corajosa esposa de Orlando Morais, um dos pseudocantores mais insuportáveis da história da Via Láctea. Depois que um revólver cai no corredor onde ela estava presenciando a briga entre a falecida e o vilão, daí para os três “pipocos” e a roupa branca da tal de “Norma” manchada com sangue de groselha foi um passo... Tudo pra proteger o vilão canastrão, claro.
De sua parte, o Antonio Fagundes não perde tempo: mal sai da cadeia, já vai jantar na casa da Camila Pitanga, onde recebe uma declaração de amor e um golpe do baú explícito, já que ela diz que “pensou bem, que não pode viver sem ele, que quer casar e ter uma família” com o grisalho galã. Assim, de bate-pronto, sem namoro, nem nada. A esta altura do campeonato, sedado pelo vinho, carente ou entusiasmado com o fim a novela, ele aceita de bom grado o “aplique” da Pitanga. Se deu bem, hein, tio?
Em uma inacreditável sucessão de “meses depois”, vemos:
1) o tal de “Léo” receber uma visita do Antonio Fagundes para uma “discussão de relação” básica, tão entediante que seria capaz de provocar o suicídio coletivo de uma manada de rinocerontes;
2) o “cara de Moai”, vestido como comandante de avião, receber beijo da patroa grávida, que reafirma a tese de que toda mulher tem tesão por caras de uniforme – uma verdade inquestionável;
3) uma tal de “Paula” ser atingida por um prato de macarrão na roupa ao prestar, sabe-se lá por que, serviço comunitário no cumprimento de alguma pena judicial. Quem era essa, hein?
4) um comício da candidata a deputada da personagem da Débora Secco, vestida pateticamente como a Geisy Arruda, e sua posterior eleição;
5) a morte do “Léo”, jogado de cima do pavilhão da cadeia por outros presos depois de entrar em um elevador que desce em uma cena e sobe na outra – outra falha inacreditável de continuidade -, dando a deixa para mais “sangue de groselha” em cena ao som de uma versão ‘perninha’ de “Satisfaction”;
6) a velha “cena de banquete em boteco”, com vários personagens insignificantes, que nunca tiveram qualquer relevância na trama, dizendo qualquer bobagem para encerrar suas participações e receberem seus cachês;
7) o “garanhão” Lázaro Ramos soltando mais uma de suas “cantadas de churrascaria” para cima de uma loira “piriguete” cheia de amor para dar;
8) casamento do Fagundes com a Pitanga, com direito a estouro da bolsa da grávida “Marina”, fato este recebido com inacreditável indiferença por parte dos noivos e dos convidados, todos sorridentes, como se acabassem de degustar um lauto jantar a base de lagosta e quindim;
9) festa de reunião de família, com o bebê da tal de “Marina” já crescido, mais um discurso em prol da moralidade de uma velha ‘coroca’ que parece ter transado pela última vez durante o Período Cretáceo, seguido de brindes com champagne quente, discursos em prol da família e mais sorrisos de plástico.
Aí surge então aquele que considero o grande mistério da trama: um show da filha do Martinho da Vila, Mart’nália, em que a platéia era presumivelmente formada por funcionários que trabalharam na produção e nos bastidores da novela. Além de uma falha inacreditável de sincronização de áudio – enquanto Mart’nália cantava uma coisa, o ‘povaréu’ cantava outra completamente diferente –, a pergunta é uma só: o que o show tinha a ver com o final da história? Por que a maioria dos funcionários na platéia usava camisetas estilizadas com o rosto do diretor da trama, Dennis Carvalho, e com os dizeres “Denis forever”???
Pô, isto sim daria uma novela muito mais interessante do que esta porcaria chamada Insensato Coração...
Régis, como sempre...Sublime.
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