A resistência dos governantes em pagar o novo valor (R$ 1.451,00) do piso nacional do magistério para 2012 é a continuação de atos refratários à aceitação da validade da Lei nº 11.738/2008, a qual foi sacramentada pela Suprema Corte. Os maestros do atraso agem como o personagem Fiódor Pávlovitch da obra Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, que vivia para representar um papel. Suas palavras lembram os acordes maviosos da lira de Orfeu, como as que Eurídice ouviu, lá no Hades. Até a Lei de Responsabilidade Fiscal serve para justificar suas ações.
Em nações primitivas, é supercavâneo se perquirir sobre as razões pelas quais os mestres ou educadores (como eram chamados antigamente os professores em raros ambientes civilizados de países atrasados) não são valorizados, o que remete a uma história antiga como o tempo: a do mestre, do educando e do anel. Nela, atesta-se que só dá verdadeiro valor a um bem quem é especialista no assunto, quem o conhece profundamente, o que não é o caso dos que transitam entre a ignorância ociosa e o oportunismo inescrupuloso vigente no Brasil oficial. No final da história aflora o óbvio: o anel só foi valorizado com preço justo por um especialista (joalheiro). A falta de proficiência de governantes e burocratas leva o Brasil a ter mais servidores do que mestres.
O que falta para pagar condignamente educadores sérios é desperdiçado pelo cabide de empregos. Deveras. Há muito tempo o Brasil possui algo em torno de 2 milhões de professores. Entretanto, não para de crescer o número de servidores, atualmente em 2,4 milhões (que gerava em 2010 uma despesa em torno de R$ 56 bilhões), grande número deles em cargos de comissão, de direção, supervisão regional etc. No Brasil existe 1,48 servidor para cada educador, relação que é de 0,43 servidor para cada professor na área da OCDE. A educação pública de qualidade, único caminho para a erradicação da miséria, só é possível, entre outras medidas, com o pagamento condigno de educadores sérios. A inclusão social nada mais é do que o resultado da “distribuição” de conhecimento, não de políticas assistencialistas.
*João Roberto Andrade Neves é Advogado
Fonte: Jornal do Comércio
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