terça-feira, 24 de abril de 2012

LABATUT

Monstro Labatut

Dias atrás escrevi e foi tornado público o artigo intitulado: Monumento para Apodi, ressaltando que a sua história é rica em dados que sobressaem da área municipal, porém é esquecida por falta de monumentos que simbolizem tais passagens na referida cidade. 

Retratei como ponto principal a histórica morte do Padre Felipe Bourel e da primeira tela pintada no Rio Grande do Norte, que foi no Apodi em 1709, como bem registrou o escritor Olavo Medeiros em seu livro “Notas para a História do RN”. Tais fatos documentados são merecedores de se erguer monumento para a posteridade. Ainda, por reportar sobre a lenda de Labatut na Chapada de Apodi mencionada no livro “1822”, de Laurentino Gomes, fato que me fez receber via e-mail, do escritor mossoroense David Leite queixando-se do autor daquele livro, por sinal um dos mais vendidos em 2011, não ter citado quem primeiro registrou a lenda folclórica de Labatut (pronúncia no francês [labaty]), pois David Leite em conversa recente com o renomado escritor Manoel Onofre falou que iria remeter missiva ao jornalista Laurentino Gomes pedindo justiça por ter esquecido o escritor apodiense – José Martins de Vasconcelos, radicado em Mossoró desde cedo, pioneiro do registro da fábula Labatut. Ainda enaltecendo, David Leite nos relembra, ao dizer ser Martins de Vasconcelos, também, o primeiro potiguar a publicar livro de contos. Salve nossa cultura! 

Assim, aqui quero fazer justiça ao autodidata, escritor, poeta, contista, jornalista, folclorista, professor e compositor - Martins de Vasconcelos, descrevendo breve relato da origem e lenda Labatut, pegando ‘carona’ em sua obra: Obras Completas, de 1918 e do livro e autor já mencionado acima – 1822. De acordo com o autor do livro supracitado, a lenda de Labatut é proveniente dos acontecimentos da Independência do Brasil, na qual, participara de forma significativa para a concretude de tornar nosso país em império e livre da metrópole, o general francês Pierre Labatut, que organizou exército, comandante na batalha dos Periquitos, recrutou agricultores, pobres, escravos, crioulos, plantadores de açúcar, fumo e mandioca. Comandou a guerra de Independência da Bahia, independência do Ceará e revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul. Morreu em 1849 aos 73 anos, em Salvador. “O nome Labatut porém perpetuou de forma curiosa no folclore do sertão nordestino”. Esse personagem militar da história da independência nos chega entremeados de estória enriquecendo lenda dos habitantes da Chapada do Apodi. É notável o registro valioso dessa fábula mítica, como algo que nos remetem tal qual o popular conto do lobisomem, que tantas crianças peraltas e impertinentes da minha geração ouviram através dos adultos para deixá-las calminhas e receosas do que poderia lhe acontecer por maus comportamentos, isso foi muito forte no tempo em que muitas cidadelas do interior não tinham ainda nos postes das ruas, de noites ermas, a energia de Paulo Afonso. José Martins de Vasconcelos, no início do século XX, nesse modo, descreve o que sua genitora, quando ainda criança, lhe repassava, ao contar: 

Era noite e a cidade dormia pacificamente em seu habitual conchego sertanejo. 

– Cala êsse assobio menino... gritava minha mãe... 

Era a hora em que todos de casa descansavam da labuta e dormiam placidamente. 

– Cala êsse assobio menino! Não ouves?!... 

– O que? Indaguei curioso e insistente, procurando descobrir naquilo alguma pieguice para zombar... 

– Então não ouves o tropel de Labatut? Escuta... êle vem na ventania que já se aproxima rugindo! O vento geme longe... êle vem... ao sair da lua entrará na cidade e como um cão danado devorará tudo que encontrar: homens, mulheres e meninos!... Ai do que cair às suas mãos, porque jamais verá os seus queridos entes - irá dormir eternamente nas suas entranhas insaciáveis, cheias de fogo! 


Na descrição do Labatut que “vagava” nas noites do imaginário dos apodienses, ainda decifra Martins de Vasconcelos, era: “um bicho pior que o lobisomem, pior que a burrinha e pior que a caipora e mais terrível que o cão-roxo!... Os pés são redondos, as mãos compridas, os cabelos longos e assanhados, corpo cabeludo, como o porco espinho, só tem um olho na testa como os ciclopes da fábula e os dentes são como as presas do elefante! Êle gosta mais dos meninos”... 

Taí um registro histórico de uma estória da nossa antropologia cultural! A lenda Labatut merece ser eternizado através de monumento que poderia ser construído, um pórtico esplêndido, no cume da ladeira da Chapada de Apodi, no entroncamento da BR 405 com a estrada do Lajedo Soledade, para que não fique só nos livros de José Martins de Vasconcelos e Laurentino Gomes, já que neste país se ler e se compra livro muitíssimo pouco. Seria um marco respaldado pela ciência social, para que as gerações dos shopings, da internet e dos celulares visualizem, leiam e sintam através de monumento, com uma arquitetura que simbolize e descreva o que a cultura marcou nas gerações de outrora e, como também, o quanto tem de importante o passado, cheio das tradições folclóricas que hoje aos poucos vão sendo esquecidas tais quais os nossos velhos escritores. 


Natal, 13 de abril de 2012.

Nuremberg Ferreira de Sousa

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