quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Quinta Romântica



Aventuras do Menino Danta e seu amigo Guerra

Por William Guerra*



CAPÍTULO XXXIII

         A Delegacia nunca tinha ido tão assediada.

         Era quase toda Verdejante em peso tentando compreender o que se passava. Afinal encontraram uma pista: um cavalo preto com todos os seus apetrechos e adornos. Selado e pronto para correr no meio do mundo.

         Ouvia-se o vozeirão do delegado Luiz Marchante:

         - Silêncio! Deixa o menino falar. Conta a sua história!

         O zum zum zum era geral. Um menino? Que tinha a ver um menino com o cavalo encontrado?

         Era o que se passava na cabeça das pessoas presentes. O que queriam agora, todos que se encontravam naquelas imediações, era que danado de menino era esse. Quem, afinal, é esse menino? E o que tem a ver em toda essa situação na morte do coronel Chico Pinto?

         O silêncio reinou na sala do delegado e, assim, puderam ouvir bem claramente o menino falar:

         - Eu fui andando pela parede do muro do sobrado. Estava querendo matar uns calangos com aminha boladeira. E vi o cavalo lá, amarrado.

         O delegado apressado, indagou:

         - Você estava sozinho? Depois que viu o cavalo, qual a sua providência?

         O menino respondeu:

         - Era só eu mesmo. Sozinho. Quando avistei o cavalo desci correndo fui avisar a minha mãe.

         Todos se entreolharam. Ninguém sabia o que dizer. Mas o menino continuou:

         - O cavalo estava com a mochila comendo milho. Aí, avistei uma pessoa se mexendo por trás da porta da cozinha.

         Nesse ponto a atenção foi redobrada pelos presentes. Vale salientar que na sala, além do delegado, estavam: o prefeito Lucas Pinto, padre Benedito, Adrião Bezerra e a mãe do garoto que veio a desvendar quem matara o Coronel Chico Pinto.

         O perfeito Lucas Pinto, apressou na pergunta:

         -Deu para saber quem era a pessoa?

         O menino colheu os ombros, respondeu:

         - Uma mulher.

         Ouviu-se um “oh” sonoro passando de boca em boca até lá fora repercutiu no meio da multidão.

         Adrião Bezerra, mais astuto, batendo com a bengala no chão, olhando para o peralta e ainda acrescentou a seguinte pergunta:

         - Mulher nova, ou mulher velha?

         A resposta de menor veio imediatamente:

         - Nem velha, nem nova.

         Houve um acesso de riso entre as pessoas. Tudo que Adrião Bezerra queria despistar, descontrair, porque o interrogado, menor de idade, poderia ser pressionado para enveredar noutros caminhos.

         Lá fora Danta e Wilson escutavam o que os demais falavam, depois de cada resposta do menino que se encontrava em interrogação policial. E, com cada comentário, Wilson exclamava;

         - Vixe!

         Danta calado. Esperando o desfecho de tudo.

         Padre Benedito, batendo na mesa, argumentou:

         - Delegado, o negócio é o seguinte: o senhor vai até à casa de dona Socorrinha e pergunta o que ela fazia naquele sobrado!

         Os olhares, como automaticamente puxados por forças invisíveis, se viraram todos em direção ao padre. O delegado lhe fez a pergunta:

         - Que é que o senhor está insinuando, padre?

         Padre Benedito coçou o local da tonsura no alto da cabeça, respondeu entre irônico e engraçado:

         - É que Socorrinha tem um chamego com Roldão...

         Aí a admiração foi mais intensa ainda. O prefeito Lucas Pinto, voz meio fanhosa conseguiu gritar:

         - Que!?
        
         O padre riu. Pediu calma. E começou a relatar:

         - Sinhazinha namora Roldão. O cavalo ali pertence a Roldão. Logo, se este menino viu o cavalo de Roldão e uma mulher na porta da cozinha, era Socorrinha que levava comida, não só para Roldão, mas também para o cavalo...

         Rodos ficaram de queixo caído. Que dedução!? Que raciocínio, que inteligência!

         O delegado Luiz Marchante, para não ficar atrás naquela revelação bombástica, tentou se defender:

         - Bem que eu desconfiava. Desde a hora em que a mãe do menino me disse que era um cavalo preto, suspeitei de Roldão. Mas garanto que ainda não sabia que Sinhazinha namorava Roldão.

         Havia um boateiro, que talvez fosse mesmo Elísio Pinto, pai dos mudos, que estando lá dentro, na sala, ouvia o que cada um dizia, corria à uma janela repleta de curiosos e mexericava o que acabara de ouvir, com um detalhe, aumentando em alguns pontos.

         Assim, mesmo os verdejantenses que não conseguiam escutar o que se conversava lá dentro e tudo o que se passava de gestos e contras-gestos, ficavam sabendo na hora, e com riqueza de detalhes.

         Dessa feita, cá, do lado de fora da delegacia, multidão em alvoroço, corriam os mais variados comentários:

         - Roldão matou Chico Pinto.

         - Mas por quê?

         - Alguém mandou.

         - Quem?

         - Não vou falar mais nada, senão sobra para mim.

         - Pois eu falo: Coronel Dito Saldanha.

         - Não, dizem que foi coronel Luis Leite.

         Nesse grupo de palradores, estavam Danta e Wilson, e este último exclamou:

         - Vixe!

         Mas lá na sala do delegado apesar do valor intenso, a coisa começava a esfriar. Fizeram os planos de interrogarem Socorrinha e obteriam dela a verdade. Pronto. Outro grupo de soldado iria sair à caça de Roldão, que não deveria estar muito longe, a pé pode até que ainda esteja na cidade.

         Assim ficou estabelecido. O escrivão levou a intimação até Socorrinha e ficou marcada a audiência onde se deveriam ouvi-la na parte da tarde daquele mesmo dia. O delegado agradeceu a presença de todos, que voltassem mais tarde e, virando para o menino, falou:

         - O seu nome vai ficar para sempre registrado neste Processo. Se não fosse por você, nunca a gente desvendaria o mistério da morte do Coronel Chico Pinto.

         O menino ficou calado, cabeça baixa. O seu avô, Adrião Bezerra o pegou pela mão e trouxe à porta e, rompendo a multidão, iam os dois caminhando e todos mais curiosos e de olhos arregalados viam aquela cena. Alguém comentou:

         - Este Guerra tá em todas...

         Por incrível que pareça muitos aplaudiam a passagem do garoto conduzido pelo avô. Alguns até passavam a mão em seus cabelos em desalinho. Guerra impassível, nada dizia nada comentava. Apenas seguia no meio da multidão até chegar num ambiente mais aliviado onde estavam Danta e Wilson.

         Guerra foi logo dando um alô aos amigos e uma espécie de desabafo:

         - Ufa...!

         Danta fez a pergunta principal:

         - E aí, contou tudo?

         O amigo convidou os dois para um banho na lagoa. Imediatamente aceito. Mas Wilson queria saber detalhes;

         - Quem matou o coronel Chico Pinto, você sabe?

         Guerra nada dizia. Desciam as barreiras até às margens daquela imensa bacia de água. Ainda Danta insistiu:

         - Conta pelo menos quem matou Chico Pinto?

         Guerra, para deixar os amigos tranqüilos, falou assim:

         - Quem matou Chico Pinto eu não sei. Mas sei que o cavalo que avistei naquele quintal pertence a Roldão. Só.

         - Vixe!

         Foi o único comentário de Wilson. Os três caíram na água.

         Enquanto isso corria nos quatro cantos da cidade a notícia de que fora Roldão o assassino do coronel Chico Pinto. Corria uma patrulha de muitos soldados pelos quatro cantos da cidade vê se pegava o criminoso.

         Restava, porém, aquela indagação no ar: a troco de que, Roldão praticou ato tão perverso?

         Cada um tentava adivinha o que realmente acontecia em Verdejante, nada se sabia ao certo. Mas quem sabe mais tarde Socorrinha dava uma pista? Esta caiu passou a ser prato cheio para as beatas.

         Já se sabia dos comentários das três religiosas mulheres do lugar: Tilde, Cotó e Adofina.

         Adofina:

         - Despudorada!

         Cotó:

         - Nem mesmo deixou o marido defunto esfriar, já esquentando o rabo!

         Tilde:

         - Que pecadora, meu Deus!

         E as três, cada vez que tocavam o nome de Deus acompanhado de alguma pecadora (ou pecador) declarada, se persignavam e ficavam com as mãos postas, como quem implorando perdão ao Criador.

         Socorrinha foi pega de surpresa. Ao receber a intimação tratou de começar a desmentir. Aquele menino malvado filho de Carrinho não viu ninguém. É invenção do cabrito!

         Sua irmã a demoveu de sair acusando. Que dissesse a verdade que tratariam de contratar o advogado rábula, Filástrio Lopes Correia Pinto para defendê-la.

         Assim foi feito. O advogado se comprometeu em acompanhá-la à delegacia e não permitiria que fosse indiciada no Processo. Mas tinha um entrave: Lucas Pinto, o prefeito, irmão do coronel assassinado era quem mandava e desmandava no delgado. Lucas Pinto dizendo: prenda, Luiz Marchante prendia; mas se mandasse soltar, obedecia do mesmo jeito. Maneira que o indiciamento de Socorrinha estava nas mãos do irmão de Chico Pinto, não dependia de defesa de ninguém.

         Todos foram para suas casas almoçar, e como ninguém tinha mesmo o que fazer em Verdejante, muitos curiosos já se encontrava em frente à delegacia para assistirem a chegada de Socorrinha e todos os demais personagens, bem como ouvirem o que ela teria para dizer ao delegado.

         Um emissário, por baixo do pano fora enviado por importante figura ao prefeito. Lucas Pinto ouviu atentamente ao emissário: fazer com que o depoimento de Socorrinha não fizesse parte do Processo, ou seja, excluí-la como co-autora do crime.

         O astuto político, com o dedo indicado no meio dos lábios, querendo dizer que se fizesse silencia, intuiu:

         - Que ganho com isso?

         O outro que preferiu ficar no anonimato, respondeu imediatamente:

         - Apoio político por parte do nosso grupo. O senhor sabe de quem estou falando...

         Lucas Pinto disse que iria pensar até às quinze horas, meia hora antes do depoimento de Socorrinha. Enviaria, também, um emissário à residência do “chefe” que lhe propusera a barganha dizendo se: sim ou se não.

         Apertaram as mãos e o emissário de parte dos que defendiam Socorrinha foi-se. Lucas Pinto ficou pensativo e pensando lá com os seus botões: “Isto diabo, botaram-me numa sinuca de bico esses impostores!”

         Mas assim que se fazia política em Verdejante: engolir sapos para se ter uma vitória. O importante era vencer, não importava como.

         E o prefeito cumpriu o prometido enviando o tal do “emissário” às hostes adversárias levando a sua resposta.

         Danta, Wilson e Guerra também se encontravam nas imediações da delegacia. Guerra ainda era motivo de curiosidade dos verdejantenses, todos tentavam uma prosa com o garoto que desvendou o mistério da morte de Chico Pinto.

         Quinze horas em ponto, sol de rachar e o tempo abafado, previsão de muita chuva mais tarde, chegam à delegacia Socorrinha acompanhada do advogado pro visionado (assim que se explicava), sua irmã, mulher de poderoso comerciante local e todos os demais componentes que, pela manhã, participaram do interrogatório do menino Guerra. Elísio Pinto, o boateiro, desta vez não pôde penetra o recinto, mesmo suplicando ao prefeito, seu parente que intercedesse na sua pretensão. Nada feito. Foi motivo de piadas e zombarias por parte de alguns presentes. Mas, contudo, arranjou um bom local na janela principal, embora o sol fizesse quase ferver o parapeito da mesma.

         Uma notícia percorreu, feito raio no meio da mata, informando que a policia havia capturado Roldão, o traziam, já, rumo à delegacia. O burburinho foi geral. O delegado impôs silencia e começaria, imediatamente, o depoimento de Socorrinha, mas foi impedido, o prefeito falou:

         - Um momento, delegado. Não seria o caso do senhor deixar o depoimento desta testemunha para outra oportunidade, tendo em, vista que se diz por aí que Roldão foi preso?

         O delegado já estava pronto para consentir, foi impedido, também, de falar:

         - Calma! E o que tem a ver o depoimento de Socorrinha com a prisão de Roldão? E não me façam citar aquele famoso ditado!

         Foi a voz de um homem polêmico e teimoso que se ouviu, Adrião Bezerra, para colocar mais lenha na fogueira.

         Pela terceira vez o delegado ia dizer alguma coisa, tomou-lhe a palavra padre Benedito Basilio Alves:

         - Senhor delegado! Estou aqui porque fui convidado para acompanha este caso escabroso e cheio de contradições. Mas se o senhor que deixa-lo mais contraditório ainda, por que não diz logo para todo mundo que o caso está encerrado?

         O delegado pigarreou, retirou o chapéu do panamá da cabe, coçou o cocuruto e:

         - Pronto. Decido: Socorrinha não precisa mais depor, Roldão já deve está chegando para ficar trancafiado. Vamos agora ouvi-lo numa outra oportunidade e remeter o inquérito para a Justiça. Reunião encerrada.

         As discussões tomaram boa parte da tarde. Socorrinha voltou para casa, enquanto o povo saía chateado dizendo:

         - Aí tem marmelada.

         - Tanto de um lado como de outro.

         - Quem morreu foi quem se enterrou.
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DESCULPAS: passamos uns dias sem o e-mail, foi umsufoco,arranjamos ascoisas eagora retomamos a nossa história,que deverá acbar ainda em dezembro. Publicaremos capítulos diariamente: Rokátia e eu publicaremos chamadas no facebook e no Blog. Obrigado.

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