Aventuras do Menino Danta e seu amigo Guerra
Por William Guerra*
CAPÍTULO XXXIII
A Delegacia nunca tinha ido tão assediada.
Era
quase toda Verdejante em peso tentando compreender o que se passava.
Afinal encontraram uma pista: um cavalo preto com todos os seus
apetrechos e adornos. Selado e pronto para correr no meio do mundo.
Ouvia-se o vozeirão do delegado Luiz Marchante:
- Silêncio! Deixa o menino falar. Conta a sua história!
O zum zum zum era geral. Um menino? Que tinha a ver um menino com o cavalo encontrado?
Era
o que se passava na cabeça das pessoas presentes. O que queriam agora,
todos que se encontravam naquelas imediações, era que danado de menino
era esse. Quem, afinal, é esse menino? E o que tem a ver em toda essa situação na morte do coronel Chico Pinto?
O silêncio reinou na sala do delegado e, assim, puderam ouvir bem claramente o menino falar:
-
Eu fui andando pela parede do muro do sobrado. Estava querendo matar
uns calangos com aminha boladeira. E vi o cavalo lá, amarrado.
O delegado apressado, indagou:
- Você estava sozinho? Depois que viu o cavalo, qual a sua providência?
O menino respondeu:
- Era só eu mesmo. Sozinho. Quando avistei o cavalo desci correndo fui avisar a minha mãe.
Todos se entreolharam. Ninguém sabia o que dizer. Mas o menino continuou:
- O cavalo estava com a mochila comendo milho. Aí, avistei uma pessoa se mexendo por trás da porta da cozinha.
Nesse
ponto a atenção foi redobrada pelos presentes. Vale salientar que na
sala, além do delegado, estavam: o prefeito Lucas Pinto, padre Benedito,
Adrião Bezerra e a mãe do garoto que veio a desvendar quem matara o
Coronel Chico Pinto.
O perfeito Lucas Pinto, apressou na pergunta:
-Deu para saber quem era a pessoa?
O menino colheu os ombros, respondeu:
- Uma mulher.
Ouviu-se um “oh” sonoro passando de boca em boca até lá fora repercutiu no meio da multidão.
Adrião Bezerra, mais astuto, batendo com a bengala no chão, olhando para o peralta e ainda acrescentou a seguinte pergunta:
- Mulher nova, ou mulher velha?
A resposta de menor veio imediatamente:
- Nem velha, nem nova.
Houve
um acesso de riso entre as pessoas. Tudo que Adrião Bezerra queria
despistar, descontrair, porque o interrogado, menor de idade, poderia
ser pressionado para enveredar noutros caminhos.
Lá
fora Danta e Wilson escutavam o que os demais falavam, depois de cada
resposta do menino que se encontrava em interrogação policial. E, com
cada comentário, Wilson exclamava;
- Vixe!
Danta calado. Esperando o desfecho de tudo.
Padre Benedito, batendo na mesa, argumentou:
- Delegado, o negócio é o seguinte: o senhor vai até à casa de dona Socorrinha e pergunta o que ela fazia naquele sobrado!
Os
olhares, como automaticamente puxados por forças invisíveis, se viraram
todos em direção ao padre. O delegado lhe fez a pergunta:
- Que é que o senhor está insinuando, padre?
Padre Benedito coçou o local da tonsura no alto da cabeça, respondeu entre irônico e engraçado:
- É que Socorrinha tem um chamego com Roldão...
Aí a admiração foi mais intensa ainda. O prefeito Lucas Pinto, voz meio fanhosa conseguiu gritar:
- Que!?
O padre riu. Pediu calma. E começou a relatar:
-
Sinhazinha namora Roldão. O cavalo ali pertence a Roldão. Logo, se este
menino viu o cavalo de Roldão e uma mulher na porta da cozinha, era
Socorrinha que levava comida, não só para Roldão, mas também para o
cavalo...
Rodos ficaram de queixo caído. Que dedução!? Que raciocínio, que inteligência!
O delegado Luiz Marchante, para não ficar atrás naquela revelação bombástica, tentou se defender:
-
Bem que eu desconfiava. Desde a hora em que a mãe do menino me disse
que era um cavalo preto, suspeitei de Roldão. Mas garanto que ainda não
sabia que Sinhazinha namorava Roldão.
Havia
um boateiro, que talvez fosse mesmo Elísio Pinto, pai dos mudos, que
estando lá dentro, na sala, ouvia o que cada um dizia, corria à uma
janela repleta de curiosos e mexericava o que acabara de ouvir, com um
detalhe, aumentando em alguns pontos.
Assim,
mesmo os verdejantenses que não conseguiam escutar o que se conversava
lá dentro e tudo o que se passava de gestos e contras-gestos, ficavam
sabendo na hora, e com riqueza de detalhes.
Dessa feita, cá, do lado de fora da delegacia, multidão em alvoroço, corriam os mais variados comentários:
- Roldão matou Chico Pinto.
- Mas por quê?
- Alguém mandou.
- Quem?
- Não vou falar mais nada, senão sobra para mim.
- Pois eu falo: Coronel Dito Saldanha.
- Não, dizem que foi coronel Luis Leite.
Nesse grupo de palradores, estavam Danta e Wilson, e este último exclamou:
- Vixe!
Mas
lá na sala do delegado apesar do valor intenso, a coisa começava a
esfriar. Fizeram os planos de interrogarem Socorrinha e obteriam dela a
verdade. Pronto. Outro grupo de soldado iria sair à caça de Roldão, que
não deveria estar muito longe, a pé pode até que ainda esteja na cidade.
Assim
ficou estabelecido. O escrivão levou a intimação até Socorrinha e ficou
marcada a audiência onde se deveriam ouvi-la na parte da tarde daquele
mesmo dia. O delegado agradeceu a presença de todos, que voltassem mais
tarde e, virando para o menino, falou:
-
O seu nome vai ficar para sempre registrado neste Processo. Se não
fosse por você, nunca a gente desvendaria o mistério da morte do Coronel
Chico Pinto.
O
menino ficou calado, cabeça baixa. O seu avô, Adrião Bezerra o pegou
pela mão e trouxe à porta e, rompendo a multidão, iam os dois caminhando
e todos mais curiosos e de olhos arregalados viam aquela cena. Alguém
comentou:
- Este Guerra tá em todas...
Por
incrível que pareça muitos aplaudiam a passagem do garoto conduzido
pelo avô. Alguns até passavam a mão em seus cabelos em desalinho. Guerra
impassível, nada dizia nada comentava. Apenas seguia no meio da
multidão até chegar num ambiente mais aliviado onde estavam Danta e
Wilson.
Guerra foi logo dando um alô aos amigos e uma espécie de desabafo:
- Ufa...!
Danta fez a pergunta principal:
- E aí, contou tudo?
O amigo convidou os dois para um banho na lagoa. Imediatamente aceito. Mas Wilson queria saber detalhes;
- Quem matou o coronel Chico Pinto, você sabe?
Guerra nada dizia. Desciam as barreiras até às margens daquela imensa bacia de água. Ainda Danta insistiu:
- Conta pelo menos quem matou Chico Pinto?
Guerra, para deixar os amigos tranqüilos, falou assim:
- Quem matou Chico Pinto eu não sei. Mas sei que o cavalo que avistei naquele quintal pertence a Roldão. Só.
- Vixe!
Foi o único comentário de Wilson. Os três caíram na água.
Enquanto
isso corria nos quatro cantos da cidade a notícia de que fora Roldão o
assassino do coronel Chico Pinto. Corria uma patrulha de muitos soldados
pelos quatro cantos da cidade vê se pegava o criminoso.
Restava, porém, aquela indagação no ar: a troco de que, Roldão praticou ato tão perverso?
Cada
um tentava adivinha o que realmente acontecia em Verdejante, nada se
sabia ao certo. Mas quem sabe mais tarde Socorrinha dava uma pista? Esta
caiu passou a ser prato cheio para as beatas.
Já se sabia dos comentários das três religiosas mulheres do lugar: Tilde, Cotó e Adofina.
Adofina:
- Despudorada!
Cotó:
- Nem mesmo deixou o marido defunto esfriar, já esquentando o rabo!
Tilde:
- Que pecadora, meu Deus!
E
as três, cada vez que tocavam o nome de Deus acompanhado de alguma
pecadora (ou pecador) declarada, se persignavam e ficavam com as mãos
postas, como quem implorando perdão ao Criador.
Socorrinha
foi pega de surpresa. Ao receber a intimação tratou de começar a
desmentir. Aquele menino malvado filho de Carrinho não viu ninguém. É
invenção do cabrito!
Sua
irmã a demoveu de sair acusando. Que dissesse a verdade que tratariam
de contratar o advogado rábula, Filástrio Lopes Correia Pinto para
defendê-la.
Assim
foi feito. O advogado se comprometeu em acompanhá-la à delegacia e não
permitiria que fosse indiciada no Processo. Mas tinha um entrave: Lucas
Pinto, o prefeito, irmão do coronel assassinado era quem mandava e
desmandava no delgado. Lucas Pinto dizendo: prenda, Luiz Marchante
prendia; mas se mandasse soltar, obedecia do mesmo jeito. Maneira que o
indiciamento de Socorrinha estava nas mãos do irmão de Chico Pinto, não
dependia de defesa de ninguém.
Todos
foram para suas casas almoçar, e como ninguém tinha mesmo o que fazer
em Verdejante, muitos curiosos já se encontrava em frente à delegacia
para assistirem a chegada de Socorrinha e todos os demais personagens,
bem como ouvirem o que ela teria para dizer ao delegado.
Um
emissário, por baixo do pano fora enviado por importante figura ao
prefeito. Lucas Pinto ouviu atentamente ao emissário: fazer com que o
depoimento de Socorrinha não fizesse parte do Processo, ou seja,
excluí-la como co-autora do crime.
O astuto político, com o dedo indicado no meio dos lábios, querendo dizer que se fizesse silencia, intuiu:
- Que ganho com isso?
O outro que preferiu ficar no anonimato, respondeu imediatamente:
- Apoio político por parte do nosso grupo. O senhor sabe de quem estou falando...
Lucas
Pinto disse que iria pensar até às quinze horas, meia hora antes do
depoimento de Socorrinha. Enviaria, também, um emissário à residência do
“chefe” que lhe propusera a barganha dizendo se: sim ou se não.
Apertaram
as mãos e o emissário de parte dos que defendiam Socorrinha foi-se.
Lucas Pinto ficou pensativo e pensando lá com os seus botões: “Isto diabo, botaram-me numa sinuca de bico esses impostores!”
Mas
assim que se fazia política em Verdejante: engolir sapos para se ter
uma vitória. O importante era vencer, não importava como.
E o prefeito cumpriu o prometido enviando o tal do “emissário” às hostes adversárias levando a sua resposta.
Danta,
Wilson e Guerra também se encontravam nas imediações da delegacia.
Guerra ainda era motivo de curiosidade dos verdejantenses, todos
tentavam uma prosa com o garoto que desvendou o mistério da morte de
Chico Pinto.
Quinze
horas em ponto, sol de rachar e o tempo abafado, previsão de muita
chuva mais tarde, chegam à delegacia Socorrinha acompanhada do advogado
pro visionado (assim que se explicava), sua irmã, mulher de poderoso
comerciante local e todos os demais componentes que, pela manhã,
participaram do interrogatório do menino Guerra. Elísio Pinto, o
boateiro, desta vez não pôde penetra o recinto, mesmo suplicando ao
prefeito, seu parente que intercedesse na sua pretensão. Nada feito. Foi
motivo de piadas e zombarias por parte de alguns presentes. Mas,
contudo, arranjou um bom local na janela principal, embora o sol fizesse
quase ferver o parapeito da mesma.
Uma
notícia percorreu, feito raio no meio da mata, informando que a policia
havia capturado Roldão, o traziam, já, rumo à delegacia. O burburinho
foi geral. O delegado impôs silencia e começaria, imediatamente, o
depoimento de Socorrinha, mas foi impedido, o prefeito falou:
-
Um momento, delegado. Não seria o caso do senhor deixar o depoimento
desta testemunha para outra oportunidade, tendo em, vista que se diz por
aí que Roldão foi preso?
O delegado já estava pronto para consentir, foi impedido, também, de falar:
- Calma! E o que tem a ver o depoimento de Socorrinha com a prisão de Roldão? E não me façam citar aquele famoso ditado!
Foi a voz de um homem polêmico e teimoso que se ouviu, Adrião Bezerra, para colocar mais lenha na fogueira.
Pela terceira vez o delegado ia dizer alguma coisa, tomou-lhe a palavra padre Benedito Basilio Alves:
-
Senhor delegado! Estou aqui porque fui convidado para acompanha este
caso escabroso e cheio de contradições. Mas se o senhor que deixa-lo
mais contraditório ainda, por que não diz logo para todo mundo que o
caso está encerrado?
O delegado pigarreou, retirou o chapéu do panamá da cabe, coçou o cocuruto e:
-
Pronto. Decido: Socorrinha não precisa mais depor, Roldão já deve está
chegando para ficar trancafiado. Vamos agora ouvi-lo numa outra
oportunidade e remeter o inquérito para a Justiça. Reunião encerrada.
As discussões tomaram boa parte da tarde. Socorrinha voltou para casa, enquanto o povo saía chateado dizendo:
- Aí tem marmelada.
- Tanto de um lado como de outro.
- Quem morreu foi quem se enterrou.
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DESCULPAS:
passamos uns dias sem o e-mail, foi umsufoco,arranjamos ascoisas eagora
retomamos a nossa história,que deverá acbar ainda em dezembro.
Publicaremos capítulos diariamente: Rokátia e eu publicaremos chamadas
no facebook e no Blog. Obrigado.
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