quarta-feira, 16 de março de 2011

Quarta Crônica

A partir de hoje, publicarei aqui, semanalmente (às quartas-feiras) uma crônica  para apreciação dos meus leitores que, como eu, gostam desse gênero literáro. E para começar, trago uma bela crônica, do meu querido amigo José de Paiva Rebouças, mais conhecido como Jotta Paiva. A crônica abaixo foi publicada, no último domingo, na coluna semanal 'Balada do Impostor', no caderno Mulher, do Jornal De Fato.

Homem, de Veloso

Só tenho inveja da longevidade
e dos orgasmos múltiplos...
Caetano Veloso.


Quando ouvi essa música pela primeira vez, tive uma catarse. Não só porque o Caetano tem o poder de transportar-nos a outras dimensões, mas porque se prestarmos atenção, ele só tem razão. Vocês mulheres ganharam mais essa vantagem. Podem chamar de inveja, se quiserem, não tenho problema em assumir. Mas que dá raiva dá!

O fato é que, por mais que nós nos esforcemos, o orgasmo masculino acaba sendo uma situação pontual, animalesca; sempre tem a ver com rapidez e inconsciência. Não é uma escolha nossa, acreditem, faz parte do quite. Sem falar que depois que foi, foi, não tem o que fazer. É preciso parar, respirar e rezar para que a mulher finja que está tudo bem.

Masters e Johnson, pesquisadores americanos, divulgaram uma pesquisa sobre o ciclo do orgasmo. O trabalho diz que esse processo sofreu mudanças ao longo de anos e que atualmente se constitui em três fases: desejo, excitação e orgasmo. Pronto. Só se for para o homem, porque nas minhas contas, o ciclo do orgasmo feminino começa com um jantar à luz de velas, regado de elogios no penteado, na maquiagem, no esmalte, no batom... É preciso inflar o seu ego para depois vê-la humilhar-nos com orgasmos múltiplos, enquanto nós, coitados, nos mordemos, nos torcemos, pensamos no filme de terror, na inflação ou no aumento do salário mínimo, pelo mínimo que nos foi concebido pela biologia. Quantos, cinco segundos?

Não importa se Indra Sinha diz que o Kama Sutra não é um manual de sexo, é sim e foi escrito para os homens serem mais sensíveis com as mulheres e demorarem mais para satisfazerem-nas na cama. Quer dizer, nascemos para ser escravos delas. É uma teoria da conspiração. Na verdade não me importo em sê-lo, só acho injusto que para elas seja múltiplo e para nós, mínimo.

Claro, estou falando daquilo que conheço, agora, se algo não está fazendo sentido nessa conversa, acho que é hora de ter uma boa conversa com seu parceiro... Algo deve estar errado, mas não se assuste, se vocês estão fingindo até hoje, talvez seja melhor assim.

José de Paiva Rebouças.
Escritor e jornalista

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Texto publicado na coluna “Balada do Impostor”, no caderno Mulher do Jornal De Fato

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