O VERBO
(Albir José Inácio da Silva)
- Seu marido foi embora, né?
- Como é que a senhora sabe? Eu ainda não falei nada.
- Iemanjá sabe tudo, minha filha.
- E o que mais diz Iemanjá?
-Iemanjá diz: “trago seu homem em três dias”.
Pagou, beijou a mão da madame e saiu com o coração aos pulos. Será? Deve ser. Iemanjá não mente. Devia ter vindo antes. Tantos meses de sofrimento.
Um dia ele pegou a mala e disse vou pra São Paulo. Não teve choro nem desmaio nem pergunta que ele respondesse. Viu quando entrou no ônibus sem se virar. Andou como louca pelas ruas, depois foi pra casa e chorou todos os dias.
Não é que não acreditasse. É que sua desgraça era tanta que achou que não tinha jeito. Só com muita falação das comadres é que resolveu fazer a consulta. Agora era esperar. Três dias.
No primeiro dia vieram dizer que ele tinha chegado no ônibus das seis. Arrumou a casa , fez o peixe e comprou a cachaça. Ele não veio.
No segundo, soube que ele perguntou por ela. Lavou os cabelos, botou perfume, e ele não veio.
No terceiro dia, foi a rua e viu que ele comprava flores no mercado. Correu pra casa a esperá-lo. Vieram dizer que ele entrou no mar com as flores. E não voltou.
Madame não estava satisfeita. Iemanjá não costumava fazer essas coisas. Por que prometeu, se não ia entregar? Da janela, viu a menina na praia, encolhida, de frente pro mar.
Olhava as ondas sem entender. Por que, Iemanjá? Por quê? Estava infeliz, sem marido, mas tinha esperança de ele voltar. E agora? Pra que essa história de “trago seu homem em três dias?”
À noite, na feira, uma viola chorava o falecido morto pela armadilha verbal:
- No fundo ninguém conhece
os mistérios de Iemanjá
e ninguém nunca se lembra
do velho verbo tragar.
- Como é que a senhora sabe? Eu ainda não falei nada.
- Iemanjá sabe tudo, minha filha.
- E o que mais diz Iemanjá?
-Iemanjá diz: “trago seu homem em três dias”.
Pagou, beijou a mão da madame e saiu com o coração aos pulos. Será? Deve ser. Iemanjá não mente. Devia ter vindo antes. Tantos meses de sofrimento.
Um dia ele pegou a mala e disse vou pra São Paulo. Não teve choro nem desmaio nem pergunta que ele respondesse. Viu quando entrou no ônibus sem se virar. Andou como louca pelas ruas, depois foi pra casa e chorou todos os dias.
Não é que não acreditasse. É que sua desgraça era tanta que achou que não tinha jeito. Só com muita falação das comadres é que resolveu fazer a consulta. Agora era esperar. Três dias.
No primeiro dia vieram dizer que ele tinha chegado no ônibus das seis. Arrumou a casa , fez o peixe e comprou a cachaça. Ele não veio.
No segundo, soube que ele perguntou por ela. Lavou os cabelos, botou perfume, e ele não veio.
No terceiro dia, foi a rua e viu que ele comprava flores no mercado. Correu pra casa a esperá-lo. Vieram dizer que ele entrou no mar com as flores. E não voltou.
Madame não estava satisfeita. Iemanjá não costumava fazer essas coisas. Por que prometeu, se não ia entregar? Da janela, viu a menina na praia, encolhida, de frente pro mar.
Olhava as ondas sem entender. Por que, Iemanjá? Por quê? Estava infeliz, sem marido, mas tinha esperança de ele voltar. E agora? Pra que essa história de “trago seu homem em três dias?”
À noite, na feira, uma viola chorava o falecido morto pela armadilha verbal:
- No fundo ninguém conhece
os mistérios de Iemanjá
e ninguém nunca se lembra
do velho verbo tragar.
Fonte: Crônica do Dia: O VERBO >> Albir José Inácio da Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário