Se você
não tem uma (boa) idéia, não tente
escrever um artigo científico. A melhor opção, nesse caso, é produzir uma
resenha ou um texto crítico ou de opinião a respeito de uma idéia, um tema, um
autor – mesmo que o texto fique inédito. A idéia de um bom artigo pode surgir
durante esse processo.
Um
bom artigo deve conter uma (boa)
idéia, mas não muitas boas idéias. É importante, portanto, que você tenha claro
qual é sua melhor idéia. Caso você
não tenha apenas uma (boa) idéia,
mas sim várias, e queira escrever um artigo, é recomendável optar por uma das
alternativas a seguir: (i) hierarquizá-las, para deixar claro qual delas será
tratada; (ii) planejar a escrita de vários artigos, cada um sobre uma das suas
idéias (nesse caso, é recomendável que você não os escreva simultaneamente,
pois isso significa escolher alguma como prioritária, ou seja, significa voltar
ao item precedente); (iii) fundir as várias idéias em uma só, que seja
consistente, sem ser excessivamente genérica.
No entanto, para escrever um artigo
cientifico, é preciso, além de uma boa idéia (singular ou composta), usar teorias, informações e/ou dados
oriundos de uma pesquisa. A função principal de um artigo é precisamente a
de apresentar sinteticamente à comunidade científica os resultados de suas mais
recentes pesquisas.
Com clareza quanto à sua boa idéia e
com os resultados finais ou parciais de sua pesquisa à mão, eis dez coisas a
fazer para compor um bom artigo.
- Antes
de escrever, elabore um roteiro:
tenha uma idéia clara do que você quer demonstrar, confirmar/desmentir,
ilustrar, exemplificar, testar, comparar, recomendar etc. O começo, o meio
e o fim do artigo devem estar claros para você antes de ele começar a ser
escrito. Lembre-se: qualquer autor passa muito mais tempo revendo/reescrevendo (quase sempre mais de uma vez) os diferentes
trechos de um texto, do que escrevendo-os. Por isso, o roteiro ajuda a
compor a primeira versão que, em seguida, será objeto de várias revisões.
Não é por acaso que vigora a máxima de que o ofício de pesquisador requer
10% de inspiração e 90% de transpiração.
- Valorize
a fórmula consagrada de escrita chamada svp – “sujeito,
verbo e predicado”. Escreva “O conselho discutiu a regra”. Não escreva
“Discutiu a regra o conselho” ou “Discutiu o conselho a regra”. Usar
deliberadamente a voz ativa, sempre
que possível, ajuda a usar a
fórmula SVP – evite usar “A
regra foi discutida pelo conselho” ou “Foi discutida pelo conselho a
regra”. Usar esta fórmula simples de escrita ajuda a tornar o texto claro
e preciso, encurta as suas sentenças e diminui a possibilidade de cometer
erros de concordância, entre outros.
- Evite
generalidades, mas abuse dos dados. Generalidades são boas para conversa
de mesa de bar. Cada afirmação do seu artigo deve ser capaz de ser
respaldada por dados, achados e interpretações encontrados em artigos e
textos de outros autores ou na sua própria pesquisa. Não importa tanto o
que – ou quem - você usa para respaldar as suas afirmações, nem que você
respalde explicitamente cada afirmação, mas elas têm que ter respaldo.
- “Eu
acho”, “eu prefiro”, “o melhor é”, “deve ser”, “tem que ser”, “todo mundo
sabe que”, “sempre foi assim”, “a tendência natural é” - nada disso dá
respaldo a argumentos usados em textos científicos. Essas expressões
indicam manifestações de normatividade, de opção pessoal ou de
preferência. Evitar.
- Seja
lógico: após o A, vem o B, e não o C ou o D. Releia as suas afirmações e
conclusões: veja se elas têm mesmo respaldo empírico e se decorrem
logicamente da sua argumentação. É muito comum o uso de expressões como
“dessa maneira”, “portanto”, “segue-se que”, “assim”, “conclui-se que”
etc., sem que de fato haja relação lógica entre as conclusões e as frases
que a precedem. Exemplo: A: “O céu amanheceu sem nuvens.” B: “Sem nuvens
não há chuva.” C: “Portanto, não choverá nas próximas semanas.” A está
certo; B está certo; C pode até estar certo, mas não decorre de A nem de
B. C é uma afirmação ou conclusão que não decorre rigorosamente das
afirmações anteriores. Rigorosamente, C é uma suposição, mais do que uma
conclusão.
- Mantenha
as suas sentenças curtas. Para isso, a solução é simples: abuse dos pontos
finais, pois eles são gratuitos, não estão ameaçados de extinção e
organizam o seu texto. Sentenças longas exigem o uso excessivo de recursos
como virgulas, dois pontos, pontos e virgulas, travessões, parênteses etc.
Eles são também gratuitos e abundantes, mas quando usados a granel não
facilitam a leitura do seu texto. Sentenças longas devem ficar para os que
tem um bom domínio da língua, como os detentores do prêmio Nobel (José
Saramago) ou mestres da literatura (Machado de Assis). Mas, cuidado com
Guimarães Rosa: o uso recorrente de neologismos funciona muito melhor na
literatura do que em textos científicos.
- Reserve
tempo para sempre ler literatura (romances, contos, novelas, narrativas,
poesias etc.), mesmo quando estiver redigindo a sua tese ou dissertação.
Ler bons textos é fundamental para aprender a escrever. Procure textos que
se relacionem com as suas deficiências de escrita. Por exemplo, os
prolixos devem ler João Cabral de Melo Neto, e os muito secos podem
escolher Vinicius de Moraes.
- Não
use apud quando puder se referir
diretamente a um autor/texto, pois este é um recurso excepcional. Leia e
cite sempre o autor e o texto originais, a não ser que seja um texto
antiqüíssimo que existe apenas na Biblioteca Nacional de Paris ou que
esteja escrito apenas em chinês arcaico ou em aramaico.
- Busque
sempre usar como fontes os autores mais reconhecidos, as maiores
autoridades no assunto. Não é porque você teve um bom professor que
escreveu um artigo ou
deu uma boa aula a respeito de um assunto que ele é a referência mundial
nesse assunto. Da mesma forma, não se limite a ler e a citar os autores e
textos usados pelos seus professores prediletos. Aprenda a usar ferramentas
que lhe permitam identificar os autores mais importantes em cada área de
saber, inclusive aqueles com quem você não necessariamente concorda. No
entanto, os autores não devem ser usados ou citados apenas porque são
reconhecidos, mas sim porque são bons e pertinentes à construção de seu
texto.
- Regra
de ouro para publicar artigos: “quem não pesquisa, não escreve; quem não
escreve, não submete; quem não submete, não é aceito; quem não é aceito,
nunca será publicado;. quem não é publicado permanece anônimo, e de nada
vale um cientista ou intelectual anônimo.”
Referência bibliográfica: Bursztyn, Marcel; DRUMMOND, José Augusto, NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do. Como escrever (e publicar) um trabalho científico. Rio de Janeiro : Garamond, 2010.
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