domingo, 12 de maio de 2013

O gosto de ter mãe

Por: José de Paiva Rebouças

Estamos tão acostumados com a velocidade do mundo que muitas vezes nos esquecemos de sentir o gosto das coisas: da água natural e seu sabor mineral, do vento que nasce nos pés das laranjeiras, do sol batendo vagarosamente em nosso rosto de manhãzinha. Nos esquecemos de sentir o gosto do abraço, do aperto de mão caloroso, da gargalhada descompromissada por ouvir alguém dizer algo muito particular de um tempo que se passou. Muitas vezes nos esquecemos de coisas básicas como comer na hora certa, beber água e, por mais estranho que seja, de que temos mãe, pai, filhos e gente que sente saudade de nos ver.

Eu tenho mãe e algumas vezes, gosto de repetir essa frase só para ouvir o som da minha voz repetindo este enredo sublime. Vejo as imagens nítidas de suas mãos acariciando-me os cabelos e escuto suas palavras mansas de sabedoria empíricas. Costumo me perguntar como teria sido a minha vida se a tivesse ouvido mais e aceitado mais suas indicações. É costume de filho duvidar da experiência materna e se embrenhar no mundo feito caçador sem rumo no meio do matagal. Mas como tenho dela a fortaleza de espinhos, tenho sobrevivido a minhas escolas até aqui, embora relembre com frequência cada recomendação.

Não posso reclamar de infelicidade porque não aprendi a ser assim. A via sempre dando graças a Deus pela comida que faltava e achava isso de uma grandeza tamanha que quase nunca tinha fome. Talvez tenha sido a compaixão de Deus que dela é muito próximo, que tenha me feito, assim como a meus irmãos, garrotes bons de traçado, fortes para doenças e destemidos para a vida. Dia desses, a ouvi dizer que vencera na vida e senti uma inveja tremenda de suas palavras. Olhei sua casa simples de zona rural, seu carrinho velho com quase duas décadas, sua conta no banco que só entra uma aposentadoria mínima e não via a confirmação de sua frase e foi aí que percebi que estava aprendendo com ela mais uma grande lição. Não é pelo que se ganha ou pelo que se conquista que a gente se torna vencedor, mas pelo que se supera na vida e pelo que se colhe no futuro. Afinal de contas, só as sensações importam e ficam para sempre.


Publicado originalmente no www.defato.com.

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