terça-feira, 24 de julho de 2012

Artistas decretam estado de calamidade pública na cultura do RN‏

Os artistas mossoroenses, representando vários grupos culturais da cidade, realizaram na última sexta-feira (20) um protesto pelas ruas da cidade de Mossoró. Vestidos de preto, eles declararam luto e "Estado de calamidade pública da cultura mossoroense".

Em carta aberta, postada nas mídias sociais, os artistas exigem mudanças na política de incentivo cultural tanto nas esferas municipal como estadual e citam o caso do Museu Lauro da Escóssia, fechado há doze anos, e do Teatro Lauro Monte, que se encontra fechado há quatro anos.


Os organizadores do protesto cobram ainda mais investimentos na cultura, com apoio aos artistas e não apenas o foco em grandes eventos. Os governos de Mossoró e do Estado são cobrados.

Abaixo o vídeo oficial do manifesto dos artistas:





Eis na íntegra a carta aberta:

Mossoró, 20 de julho de 2012

Queremos, oficialmente, decretar, a partir desta data, 20 de julho de 2012, “estado de calamidade pública da cultura mossoroense” e do “Estado do Rio Grande do Norte.”

Gritamos para os mossoroenses, potiguares e para as demais tribos brasileiras, que a atual situação de nossa cultura é vexatória, humilhante, desprezível, cruel e discriminatória. Os  fazedores de cultura de Mossoró-RN estão sendo mal tratados pelos poderes públicos municipal e estadual.

O poder público de Mossoró vem tentando fazer a população mossoroense e até mesmo os próprios artistas acreditarem que vivemos numa cidade que respira arte, e que temos um movimento cultural apoiado pela Prefeitura. Nós estamos aqui para contestar, protestar e dizer que todo este alarde não passa de uma grande MENTIRA.

Mossoró hoje possui apenas uma política de eventos. Caracterizada pelos grandes espetáculos ao ar livre e pelo total desprezo aos que fazem espetáculos de teatro, de dança, de música, publicam livros, dançam quadrilhas juninas, os povos de terreiros, os capoeiristas, os das artes plásticas e visuais, que de forma independente realizam seus trabalhos dentro de seus grupos artísticos, e até mesmo os que trabalham individualmente. O acesso aos eventos como “Chuva de Bala no País de Mossoró” e “Auto da Liberdade” se dão apenas mediante a preferência e gosto pessoais dos que comandam politicamente a cidade.

Do poder público municipal, queremos re-clamar do Museu Lauro da Escóssia, que mesmo sendo o único da cidade, encontra-se fechado desde o ano 2000; da Biblioteca Pública Ney Pontes Duarte, com seu acervo atrasado e que por incrível que pareça ainda usa uma máquina de datilografia com teclas quebradas para registrar seus novos filiados; da coleção Mossoroense, que já ostentou o título de maior publicadora de livros do país, e que hoje sofre por falta de apoio; da situação das quadrilhas juninas, que foram praticamente exterminadas dos bairros da cidade, em função de um evento que atualmente conta apenas com as duas últimas remanescentes; da condição dos pequenos artesãos que precisam de espaço adequado para comercialização de seus produtos; da situação de coadjuvantes que se encontram os músicos da cidade, que assistem corais, bandas e profissionais de outras praças protagonizando os grandes eventos promovidos pelo poder público mossoroense, com pouquíssimo direito de participação; da espera das escolas de samba que são enganadas com um pretenso apoio para um carnaval que não existe, mas que a mídia patrocinada pelo poder faz acreditar que exista; do descaso com o patrimônio histórico de Mossoró, que está sendo destruído sem dó nem piedade, acabando com os últimos resquícios de nossa memória arquitetônica; do funcionamento da Escola de Artes, recém-criada, mas que já se caracteriza como espaço eleitoreiro, sem condições mínimas para a formação artística nas áreas que contempla; do acesso ao Teatro Dix-Huit Rosado, que apesar de manter uma programação regular de espetáculos, principalmente de fora, ainda não foi devidamente apropriado pelos artistas mossoroenses; das praças, das feiras e de outros logradouros públicos, que muitas vezes deixam de receber o trabalho dos artistas, devido à arrogância e total falta de sensibilidade e inteligência dos gestores, que enviam aos artistas seus seguranças inibidores de apresentações; do formato atual do Prêmio Fomento, que conta apenas com 160 mil reais divididos para todos os segmentos artísticos, e que só acontece de acordo com a vontade dos administradores.

Da Prefeitura Municipal de Mossoró, EXIGIMOS a ampliação e a valorização do Prêmio de Fomento à Cultura; editais para escolha dos diretores de teatro dos autos mossoroenses, que atualmente estão sendo escolhidos apenas pelo critério da amizade; exigimos ainda apoio para as manifestações artísticas realizadas nos bairros, como forma de descentralizar as ações da Prefeitura, que hoje se concentra apenas no chamado Corredor Cultural; exigimos a valorização dos grupos e artistas de Mossoró, e respeito aos nossos profissionais; exigimos que a Escola de Artes de Mossoró seja devidamente equipada com tablados para dança e sala para teatro e tratamento acústico para as salas de música.  

Em relação ao Governo do Estado que vem, a exemplo do nosso município, também, adotando uma política de grandes eventos, sem nenhuma preocupação com os grupos e artistas independentes, tendo praticamente todas as suas ações voltadas para o fortalecimento e criação de autos e reduzido os editais para montagem e circulação de espetáculos dos grupos.

Paralelo a isso, a Secretária Extraordinária de Cultura do Estado, Senhora Isaura Rosado, diz que está atendendo a um pedido da classe artística, mas o que lembramos são dos nossos inúmeros pedidos para pagamentos dos editais, nos quais dezenas de grupos artísticos foram contemplados, para montagem e circulação, no governo passado, mas que não receberam.

Do Poder Público Estadual, QUEREMOS o imediato pagamento dos prêmios “Lula Medeiros” de Teatro de Rua e “Chico Villa” de Circulação. Queremos a reforma do Teatro Lauro Monte Filho, que atualmente encontra-se fechado e interditado pelo Corpo de Bombeiros desde o ano de 2008, e desde então serve de chiqueiro para pombos e morcegos. Coberto pela poeira, vergonha e hipocrisia dos gestores. Queremos editais para montagem e circulação de espetáculos de teatro, de dança e de música; para a literatura de cordel, para a cantoria de viola, para a publicação de livros, para a programação das casas de cultura, estas sucatas abandonadas em diversas cidades do nosso RN; para a produção das artes visuais e do artesanato; para a produção de CDs, exposições fotográficas, e demais manifestações de nossa cultura, dos mais variados segmentos.

Exigimos a volta do Festival Agosto de Teatro, pensado e realizado pelos artistas deste Estado, mas afogado por mais um evento, imposto pela extraordinária Isaura Rosado, à revelia dos artistas do Estado e seu público.

No plano nacional, também queremos pedir a ministra Anna de Holanda que retome o formato democrático e aberto, que tanto festejamos no Governo Lula da Silva. QUEREMOS a Funarte, “de Antônio Grassi”, atuante e para todo o Brasil.

EXIGIMOS DE TODOS OS PODERES, A PARTIR DE AGORA: TRANSPARÊNCIA, DEMOCRATIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO.

Assim QUEREM E EXIGEM:

Arruaça de Teatro, Companhia Escarcéu de Teatro, Companhia Mythus, Companhia Xaréu de Teatro, Grupo de Teatro O Pessoal do Tarará, Grupo Focart, Coletivo Juízo Torrado Realiza Ações, Pau e Lata, Núcleo de Dança Nilson Torres, Grito dos Excluídos, Carlos José, Rogério Dias, Walter Silva.

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