- Em defesa da educação neste dia 12 de junho -
Os Críticos que não leram o livro Por uma Vida Melhor, demonstram em suas investidas de mal-entendidos que realmente há preconceito em relação àqueles que falam o português informal, escrevem tal qual como falam e, querem os eruditos, apenas eles como donos da verdade lingüística.
Faz muito tempo, escutei essa anedota e a gravei para sempre: “Rui Barbosa, chegando à margem de um rio, viu um canoeiro que cuidava do seu ofício fumando um cachimbo decrépito, indagou: Ó costa d’Africa, quanto queres em remuneração para transportar-me deste Pólo àquele Hemisfério? O pobre homem, que com uma humilde cuia retirava água acumulada no fundo da modesta embarcação, deslocando o cachimbo da boca, retorquiu interrogando: “Cuma?”. O Doutor em Português ficou furioso, jurisconsulto que era, rematou: Se tomo-o por ignorância eu te redimo. Mas se zombas de minha alta prosopopéia, dar-te-ei com o cabo da minha bêngala no alto da tua massa cefálica, e te reduzirei mais baixo que o solo pátrio. O canoeiro, recolocando o cachimbo, ajeitando o chapéu, saiu remando sua canoa riu acima, dizendo: Num cabe esse povo todo na minha canoa, não senhor!
Denota-se, assim, que o grande Gramático não usou da línguagem que o homem do interior, ou matuto, conhecia. Sua alocução formal e de alto nível, deveria ser empregado com aqueles que a entendessem. Poucos, por mais letrados que sejam, entenderiam o que dissera o nosso Águia de Haia, diante de um homem rude do campo. Claro que pretendia ser levado na embarcação de uma margem a outra. Só. Mas seu palavreado assustou o seu interpelado.
O livro acima mencionado, abordado nos últimos dias com enxurrada de críticas apressadas, trata-se apenas de uma orientação aos estudantes de uma faixa etária já bem avançada, e que não tiveram oportunidade de estudar desde os primeiros ensinamentos mais elementares. Ou seja, ainda não estão habituados com o vernáculo, um português castço, por isso mesmo têm que ser orientados com uma linguagem à altura de sua assimilação. Como vou chegar para um agricultor que jamais foi à escola, e falo igual a quando estiver ministrando uma palestra para doutorandos? Ou vice-versa?
E isso é o que traz o livro criticado, e que não fora lido pelos críticos de primeira hora.
Ora, se uma pessoa que não tem o domínio da língua, acostumado a falar entre pessoas do mesmo nível, diz: “Eu vi “os livro” na estante”, e dizem que não há problema em falar assim, não se está ensinando errado. Primeiro eu entendi o que o outro quis dizer. Segundo a situação em que tal interlocutor está se expondo, diz muito de como pode ser interpretado. No caso, em sendo um lingüista de renome, ou outro acurado estudioso da gramática, tudo nos levaria a crer que se expressava erradamente, mas como fora alguém que ainda não se aprofundara no aprendizado, sequer conhece os princípios da Língua, não há como dizer que falou incorretamente.
Considero casos dessa natureza uma argumentação à base do português informal, portanto admissível. Isso não quer dizer que se ensine errado a um aluno. Nem é o caso do livro tão injustamente massacrado. Aliás, certos analistas, ao se expressarem na contundente reprovação da obra dos escritores Heloisa Ramos, Cláudio Pazzoni e Mirella Laruccia Cleto, ficaram tão empolgados que erigiram essas pérolas: “Quando eu ‘tava’ na escola”, “A Língua é ‘onde’ nos une”, “Onde ‘fica’ as leis de concordância!” – Até nos faz rir, pois estão lá, nos jornais...
No mesmo livro há a defesa da norma culta, naqueles momentos em que se tem que ser usada, e em certos casos devem-se usar outras variantes, como a popular, de acordo com o contexto específico. Ninguém vai dizer que falar e ou escrever fora do padrão lingüístico deva ser correto, mas tudo depende do agente que está se passando por receptor e, especialmente, aquele que está passando a mensagem.
Mesmo assim, como existem os que criticam o livro feito e distribuído a 4.236 escolas para serem entregues a 485 mil estudantes distintos, também há os defensores. E tudo nos leva a crer que a tempestade em copo d’agua feita, volta à calmaria, as críticas viraram fumaça.
Fica-nos a lição da anedota que tem como personagem principal o lendário e polêmico Rui Barbosa, que brilhou em Haia, mas ficou catando cavaco com a atitude do humilde canoeiro.
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